Tuesday, April 02, 2002

Notas sobre a 2ª Aula de Computação e Ciências Congnitivas
Tema: "O que é pensar?"

Introspecção vs. conhecimento a partir do exterior:
Enquanto que a introspecção é uma ferramenta de análise do pensamento que o captura numa boa parte da sua acção o conhecimento que algum especialista poderá obter do pensamento de outrém estará limitado pelas suas manifestações, especialmente a fala. Daí termos centrado uma boa parte da nossa discussão sobre a mesma. Mas antes de entrar no tema da fala como transmissora do pensamento e mesmo como "building ground" do mesmo, pretendo mencionar, sobre a instrospecção, uma espécie de limites que lhe serão adjacentes devido à "inclinação" de um indivíduo para não se auto-analizar de uma forma correcta sem recorrer a atenuações de defeitos, etc (isto talvez por causa da emoção - ver 3ª aula). (Sobre esta questão poderíamos talvez seguir a literatura no que diz respeito à questão de uma pessoa ser ou não capaz de efectuar auto-psicanálise).
Numa abordagem à maneira científica mais pura o estudo do pensamento tende hoje em dia a poder ser efectuado também de uma forma directa e concreta. Isto devido aos grandes melhoramentos nas tecnologias de visualização do cérebro. Desde a Tomografia Computorizada aparecida nos anos 70, e que permitia obter uma imagem tridimensional do cérebro em raios X, já se evoluiu muito, existindo hoje em dia vários tipos de técnicas que permitem a monitorização do movimento de determinados compostos químicos no cérebro. Este tipo de monitorização permitiu avanços consideráveis no estudo da forma como o cérebro separa as tarefas cognitivas nas suas componentes. [TAUBES 1998].

Referência: Dennett, máquina paralela de pensamentos em concorrência seleccionados pela consciência.
Verificação da referência:
Dennett defende uma visão determinista da consciência. Opõe-se também à capacidade de uma pessoa se analizar a si mesma vista a relatividade da perspectiva (isto através do derrube do Teatro Cartesiano, Descartes), defendendo uma visão exterior comum para permitir a comparação (aquilo a que chama a heterophenomenology).
Na sua visão determinista da consciência como a emulação uma máquina de Von-Neumann num processador distribuído paralelo deixa claro que a mente é na verdade Software (Aula 1) e que poderia, em teoria, ser transferida, transferindo assim a consciência. [on DENNETT 1]

O material disponível sobre Daniel Dennett é vasto, ainda não tive oportunidade de ver um vídeo e ler alguns artigos do próprio e comentários de interesse ao seu livro, "Consciousness Explained". Espero poder desenvolver a sua perspectiva sobre a consciência nas notas da 4ª aula.


A Fala:
Quando se pretende avaliar um agente para determinar se este é inteligente recorre-se à análise da fala (ex.: teste de Turing). Daí parece que advém que a fala é realmente o veículo natural do pensamento, não estou completamente concordante, julgo existirem outras dimensões (daí ter também a ideia de que a instrospecção é uma ferramenta essêncial na análise do pensamento). Contudo a proximidade entre as duas é inegável e tem interesse directo no estudo do pensamento.

Ref.: Pinker, "The Language Instinct"
-> a linguagem como um instinto humano (comparação com o sonar nos morcegos ou a produção de teias pelas aranhas)
A mente Humana não como um computador de uso geral mas como uma colecção de instintos especializados adaptados para resolver os problemas com que a espécie se deparou durante a sua evolução.
De certa forma vai contra muito do que se disse na aula, contudo trouxe uma nova dimensão à discussão, de qualquer forma parece apresentar uma posição um pouco extrema. [on PINKER]

Será interessante abordar a questão de como a linguagem do pensamento é muitas vezes enriquecida com simbologia (gráfica, emocional, etc.) e chega mesmo a não ter qualquer base na linguagem oral ou escrita.
(Experiências com situações pré-sono e as ideias que daí advêm - terão que ser traduzidas para uma linguagem oral, terão que ser buscadas em memória?).


A Memória (sucint.):
Como a memória veio trazer outra dimensão ao pensamento. A incapacidade mental de alguém sem memória, referência filmatográfica de interesse: "Memento".


A Adaptabilidade:
A adaptabilidade do ser Humano advém, segundo me parece, de factores físicos (como a manutenção da temperatura interna, o facto de ser omnívoro, etc.) e de factores relaccionados com o pensamento, a forma de acção e alteração de comportamento face a novas situações.
Se muitos animais necessitam de gerações até se adaptarem a um novo ambiente (pela evolução através da selecção natural) e como tal provavelmente não sobreviverão às adversidades visto a selecção natural não lidar bem com mudanças rápidas, o ser Humano por sua vez é capaz de lidar com essas mudanças e adoptá-las ao seu modelo da realidade com a maior facilidade, que conforme a evolução técnica e social, que é incutida em parte a cada indíviduo através da educação, vai dando cada vez mais pujança a esta adaptabilidade e maior escopo de acção (eventualmente um dia o Homem dominará fenómenos naturais como os ciclones ou as cheias).
Referência: 2001 Odisseia no Espaço, quando Arthur C. Clarke fala sobre a base na Lua menciona que a 1ª geração que a habitava, nascida na terra, tinha muitas vezes problemas em lidar com a gravidade diminuta e não eram tão ajeitados com ela como viria a ser a 2ª geração já nascida na Lua.
Apresento o exemplo acima para comparação com o exemplo apresentado na aula da geração do crioulo nas 2ªs gerações após a chegada de uma cultura colonizadora ao continente Africano em que o que antes foi tratado como novidade é então adoptado com toda a naturalidade pela inocência das crianças (em todo o seu potêncial).


O que é afinal pensar?
Pusemos a questão se a determinação de um melhor caminho para chegar até um prato de comida é pensar, ora, tal tarefa é completamente fazível por um autómato (aliás um agente de IA) desde que a realidade seja transformada num modelo lógico. Podemos então pensar da seguinte forma, um animal que tenha este modelo da realidade já produzido e inalterável ("hard-coded", por exemplo como julgo ser o caso daquelas abelhas do Etnólogo*) estará meramente a aplicar um algoritmo genético, agora se o animal fôr capaz de percepcionar e produzir ele mesmo um modelo da realidade sobre a qual vai "pensar" estará a efectuar uma operação mental de muito maior complexidade e utilidade mais generalista (daí o interesse de focar a adaptabilidade mais atrás).
Daqui também retiro que o pensamento de um agente I.A. no qual se aplica um modelo é extremamente limitado e o pensamento cujo esforço será de interesse central para a resolução do problema reside na entidade que cria esse modelo.

Será também de grande interesse a perspectiva da Humanidade como todo um ser pensante. Imaginemos um visitante do espaço a visitar a Terra e que tiraria a conclusão que a Terra era realmente o dito planeta Gaia, uma só entidade composta por uma série de células (humanos, animais - activas, geológicas - passivas) que comunicam e interagem entre si sob diversas formas. Contudo onde julgo ser mais interessante focar a atenção é numa perspectiva mais conversadora julgo, e realista (talvez), de que para além do pensamento individual existe, no contexto da sociedade, o pensamento colectivo que é composto por ideias que partem de uma mente e se vão distribuíndo, sendo alteradas ao mesmo tempo que passam de indíviduo para indíviduo (paralelo com o paradigma do código móvel em Informática).
Interessante é também como existe uma selecção natural sobre as ideias e como uma só mente pode dar um contributo tão vasto para a "mente colectiva" (exemplo de Sir. Isaac Newton).

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* Num estudo de um etnólogo sobre uma espécie de abelha ele detecta que esta ao trazer alimento (provavelmente pólen) para as larvas, antes do o levar a elas demtro da colmeia, deixava-o à entrada para ir verificar algo dentro da colmeia e só depois voltava para levar o alimento às larvas. Desta forma o etnólogo começou por retirar o alimento da entrada da colmeia quando a abelha ia fazer a sua verificação para o colocar um pouco mais longe, a abelha voltava a ir buscá-lo onde estava para junto da entrada e ia fazer novamente a sua verificação, o etnólogo repetiu o seu teste e os resultados continuaram a ser os mesmo, isto até à quadragésima segunda vez em que o etnólogo desisitiu da experiência.
Nota: Contudo existem espécies de abelhas, as honney bees, que comunicam através de danças simbólicas.



Bibliografia:

Sobre uma forma mais científica de estudar o pensamento humano:
[TAUBES 1998] Picturing Very Important Protoplasm, by Gary Taubes, 1998
http://www.research.ucla.edu/chal/html/protoplasm.htm

Sobre Daniel Dennett:
[on DENNETT 1] Dan Dennett, Cognitive Sceintist
http://www.trincoll.edu/depts/phil/philo/phils/dennett.html
Algumas citações do livro de Daniel Dennett: "Consciousness Explained"
http://www.ec3.com/Upperized/DENNETT.HTM


On Pinker's book, "The Language Instinct":
[on PINKER]
http://www.mit.edu/~pinker/
http://www-eksl.cs.umass.edu/~atkin/791T/pinker.html


MS Encarta, Article on Bees (to check some concepts)

Monday, April 01, 2002

Bela Lugosi lives.