Monday, December 30, 2002

"Paula (10:10 PM) :
vc é aquele cara que estava fazendo trabalho né?"

Hahahahahahahahahaha n é dificil reconhecer-me... LOL

Sunday, December 29, 2002

"They say it's the last song
They don't know us, you see
It's only the last song
If we let it be!"

Saturday, December 21, 2002

E eu que pensava que os filmes do Michael Haneke não podiam ser mais estranhos que "O Sétimo Continente" ... estou a ficar surpreso com "A Pianista". A dissecação de Michael deixou de estar na imagem e na semântica do extremo da sensação de isolamento (uma contaminação de frieza em todo e qualquer sentimento inocente) para passar a estar no mais íntimo da sexualidade, do desejo, da frustração e na sua contextualização um pouco (impensada?) numa realidade muito restringidora e projectada pela ânsia de perfecionismo.

Links:
http://www.ecrannoir.fr/real/monde/haneke.htm
http://www.sadomasoquista.hpg.ig.com.br/definicao.html

Thursday, November 07, 2002

"I could hang about and burn my fingers
I've been hanging out here waiting for something to start
You think I'm faultless to a 't'
My manner set impeccably
But underneath I am the same as you

I could dance all night like I'm a soul boy
But I know I'd rather drag myself across the dance floor
I feel like dancing on my own
Where no one knows me, and where I
Can cause offence just by the way I look

And when I come to blows
When I am numbering my foes
Just hope that you are on my side my dear

But it's best to finish as it started
With my face head down just staring at the brown formica
It's safer not to look around
I can't hide my feelings from you now
There's too much love to go around these days

You say I've got another face
That's not a fault of mine these days
I'm honest, brutal and afraid of you"

There's Too Much Love
by BELLE AND SEBASTIAN

Sunday, September 29, 2002

"And the moment will come when composure returns
Put a face on the world, turn your back to the wall
And you walk twenty yards with your head in the air
Down the Liberty Hill, where the fashion brigade
Look with curious eyes on your raggedy way
And for once in your life you have nothing to say
And could this be the time when somebody will come
To say, 'Look at yourself, you're not much use to anyone'

Take a walk in the park, take a valium pill
Read the letter you got from the memory girl
But it takes more than this to make sense of the day
Yeah it takes more than milk to get rid of the taste
And you trusted to this, and you trusted to that
And when you saw it all come, it was waving the flag
Of the United States of Calamity, hey!
After all that you've done boy, Im sure you're going to pay

In the morning you come to the ladies salon
To get all fitted out for The Paperback Throne
But the people are living far away from the place
Where you wanted to help, it's a bit of a waste
And the puzzle will last till somebody will say
'There's a lot to be done while your head is still young'
If you put down your pen, leave your worries behind
Then the moment will come, and the memory will shine

Now the trouble is over, everybody got paid
Everybody is happy, they are glad that they came
Then you go to the place where you've finally found
You can look at yourself sleep the clock around "

Belle & Sebastian
The Boy with the Arab Strap (1998)
Sleep The Clock Around

Friday, July 26, 2002

One poem a day keeps the psychiatrist away.
"Rushing things slowards"

I was laying below in silence,
atrocities struck harshly,
but only above
among the one’s pretending to feel true love.

And a rainbow rose in me,
one that I could carry
from one hand to the other,
reach out with it and I might touch your eyes.

Weaving patterns for other puzzling minds to read
in bursts of feelings that I had felt to.
I was my own and still there was a way,
a route from my heart to your mind,
without leaving me empty I could share.

In fear of being convicted by loneliness
and accusations of egoism
I shared all over,
weaving patterns out to everyone,
carrying my soul through to for people I didn’t even know.

Inside I was still one
but slowly silence began to come
rush things too fast
into an island in the sun,
where I was to crash upon
and so I did,
without sense of self-pity,
there I sang but my voice couldn’t sing along.

TheDruid 26/07/2002

Monday, July 22, 2002

tão pá o q é q te aconteceu no g&t?
> LOL
:)
> n sei, diz-me tu.
ok
> eu só sei q enquanto a camara tava virada p mim c/ a luz vermelha eu n conseguia pensar.
acho q te sentiste commuita pressão em cima por estar a falar em frente áquela gente
toda
> eu n gostei qd a julia me comecou a chatear com o micro.
> quebrou o meu raciocinio
iá eu vi.
> e eu tinha-me preparado p defender o Não
> LOL
acho q foi isso q levou com q n conseguisses acabar a frase
> só soube no dia q era p o sim q eles me queriam
:)
quer dizer qu iás lá defender o q eles queriam e não o q tu acreditavas?
> n sei bem...
> eu pensei ser capaz de defender qualquer 1 dos lados.
> sinceramente...
> pq é-me relativamente indiferente, n tenho opinião formada, nunca vi, acho q há 1 culto, diz-se "I
_want_ to believe" por alguma razão né?
sim dá para defender qualquer um dos lados, mas se eles convida, acho q devemos
defender o que nos achamos mais provavel ou o q nos acreditamos e não o que eles querem
> UFOs c/ ETs são 1 explicação fácil p mt coisa, +- como a religião, mas por outro lado explicar os
casos de raptos como 1 fenómeno do inconsciente colectivo
> eu queria basicamente dizer isso

> e depois queria falar das ideias da requisite variety, que os aliens deviam ser mto diferentes de nós e
estas semelhanças só seriam verosímeis se fossem premeditadas
sim acho q a maior parte das pessoas é essa atitude que tem, qualquercoisa fora do
normal ou algo n entedem é logo ets
> e por outro lado eles virem até c´
> cá para nos estudar...?! perder tempo q para deve ser tão precioso? acho + q fazem cm nós q
enviamos IA p os planetas + perto...
> poix.
> aqueles casos podiam ser bem estudados
> mas por 1 lado n são pq dizem q são ETs e pronto.
eu acredito em ets, mas se eles vem cá , isso é outra historia
acho q n ecredito
> por outro lado usam uma abordagem grosseira e psicologia ultrapassada para explicar algo q eu acho
q é + real ou plo - complexo do q os sonhos
> eu já vi 1 cena q me deixa céptico.
> até veres algo é díficil acreditar em algo

Sort of what I'd say on G&T...

Sunday, July 14, 2002

Relatório Final relativo à experiência na cadeira de Computação e Ciências Cognitivas

Súmula: A partir da contextualização da experiência da cadeira no espectro das minhas experiências e interesses parto para tirar conclusões relativas àquilo que chamo um processo de dismitistificação (e daí para os efeitos da cadeira sobre mim próprio). A exposição de algumas das teorias que mais me marcaram é feita num encadeamento mais facilmente compreensível por quem tenha presente os conteúdos programáticos da cadeira. Pretendo nesta exposição representar a minha evolução na cadeira expondo alguns dos pontos de cepticismo em relação a algumas teorias orientando-me gradualmente para aquilo que se tornou a minha visão. Deixo ainda algumas sugestões.

Palavras-chave: teoria computacional de mente, memético, psicologia evolucionária, mecanismos simbólicos, sub-simbólico, emoções, evolução memética


No decorrer desta cadeira vim confirmar a brutalidade dos mitos que nos cercam na pool memética contemporânea, mesmo para quem nasce numa cidade relativamente desenvolvida como Lisboa (comparativamente com o resto do país) e num momento em que a globalização ao nível cultural quebra muitas fronteiras. Mesmo nesta nova sociedade global que se vai instalando existem os mitos que a ela são próprios e facilmente acomodam a inquisição decorrente tão naturalmente da consciência humana com uma série de respostas fáceis para algumas das questões mais interessantes da humanidade.
Algumas perspectivas transmitidas pelo curso (nomeadamente a teoria da complexidade na computação ou a abordagem de teoria da informação) tinham-me já alertado para algumas das problemáticas limitativas da nossa realidade cognitiva. Apesar de durante um certo período até há pouco menos de um ano o meu interesse pela leitura ter decrescido em tempos do ensino secundário o meu interesse por Astronomia e Ciência em geral levou-me a ler Carl Sagan e Richard Feynman, entre outros, e desbravar um pouco os caminhos típicos do pensamento lúcido que tanto produz quando aplicado aos problema da mente, mesmo os mais complexos e envoltos em mistificação. Contudo não tinha ainda existido um meio que viesse quebrar definitivamente os laços que julgo todos termos criados face à forte contextualização memética (a separação na dualidade corpo e mente, a delegação de capacidades como que de uma forma mágica numa entidade espírito, a aceitação de fenómenos inexplicáveis como tal, etc.).
A adaptação aos mecanismos típicos das ciências cognitivas foi todo um processo complexo e demorado. Especialmente a adaptação aos mecanismos derivados do neo-Darwinismo e mais recentemente da psicologia evolucionária, à teoria computacional de mente, à panóplia de novos sentidos para vocabulário densamente ligado à visão mística do seu uso no dia-a-dia e até mesmo alguma dificuldade em lidar com termos técnicos da anatomia cerebral (mesmo depois de algumas leituras especificamente sobre o tema). Apesar destes obstáculos julgo que a motivação foi muita para os superar e a forma natural e simples, se bem que penso por vezes simplista, com que muitos dos temas foram abordados nos debates veio ajudar neste caminho. As exposições teóricas trouxeram toda uma quantidade de informação que necessitava naturalmente de um processamento mais cuidado e daí o percurso bibliográfico que nos foi aconselhado. A variedade e inter-relacionamento da informação exposta foi, só por si, uma fonte de motivação.

Devo confessar que me é difícil expor de uma forma sequencial o produto deste semestre de aprendizagem e como tal vou necessitar de utilizar alguma forma de suporte adicional, tome ela a forma que tomar, sabendo desde já que a completude que tentei colocar nos sumários de cada aula vai aqui ser completamente impossível. Não pretendo contudo perder-me nos detalhes da forma da aprendizagem sem apresentar os seu frutos ainda em fase de maturação (e espero que continuamente pois planeio seguir com alguma atenção este campo do conhecimento).

“Boa tarde, eu sou o Tiago e gostava de saber onde é que existe uma ligação entre os mecanismos da IA e a mente humana. Por maior complexidade que possa compor estes mecanismos (dentro dos limites do computável em tempo útil) apresentam-se apenas como fruto de algo que é a inteligência humana e a estendem com uma capacidade de processamento matemático superior, sem contudo se aproximarem minimamente da essência que pauta a mente humana capaz de uma panóplia de actividades muito complexas contudo de simples execução e cujo cariz não determinista contudo bem articulado, capaz da adaptabilidade e altamente resistente a falhas (nem sequer necessitamos de um canal de comunicação sem ruído).
Já agora gostaria de compreender o que me torna único e me permite experimentar a subjectividade da minha vivência. Pelo caminho se possível gostaria de passar pela explicação de mecanismos como os sonhos, a necessidade de dormir, a aprendizagem e a forma como sou diferente dos meus pais partilhando com eles muito código genético, aproximando-me contudo em muitos aspectos muito mais da visão de uma geração que é a minha mesmo que não tenha a mínima proximidade genética com os seus membros (Será que somos um mecanismo de aprendizagem? Um ser que só sabe aprender?) Sim, gostava de saber, até porque os meus antepassados sabiam caçar e eu não sinto quaisquer instintos que me levem a tal actividade, será que algo se sobrepõe a eles e daí vem muita da agonia da condição humana e problemática da sociedade moderna mediocremente pacifista? E sim porque tudo isso me parece demasiado afastado da frieza da capacidade científica e os mecanismos da psicanálise não me fornecessem senão uma abordagem de topo que se assemelha à compreensão que muitos têm de uma automóvel, sabendo até manipulá-lo conforme as suas intenções, sem contudo compreender as razões do seu funcionamento.”

A confusão presente no parágrafo anterior é em todo intencional e pretende esboçar de alguma forma a superficialidade das questões que me atordoavam e foram atordoando até as poder confrontar com a lucidez de mentes como Steven Pinker ou Daniel Dennett.

A abordagem que me afastou do cenário traçado atrás foi um misto de aproximações do tipo bottom-up e top-down, com um peso muito forte da perspectiva evolucionária que em vez de apenas colocar mais uma questão (a de como surgiram determinados mecanismos que necessitam contudo de ser explicados) veio simplificar a explicação dos mecanismos através de um processo de eliminação de possibilidades e contextualização da sua aquisição.

Se inicialmente a mente parece não ser permeável à teoria computacional os grandes motivadores desta limitação são a visualização da mente como algo monolítico em vez de como uma sobreposição de camadas interactuantes numa série de processos dos quais apenas alguns são perceptíveis conscientemente e por outro lado a própria sensação de mágica que a nossa situação como entidade consciente percepciona em mecanismos como a visão, a fala e a escrita. Sendo que a dificuldade aprentemente inerente às mentes humanas normais em lidar com aquilo que veio a ser a essência da IA simbólica: a lógica e a matemática (entre tantos outros processos formais) será outro dos factores que fortemente contribuem para a dificuldade de aceitação de uma teoria computacional de mente.
É desta forma que existe uma convergência para a noção de modularidade de mente partindo de áreas distintas envolvidas nas ciências cognitivas e dos dois tipos de abordagens bottom-up e top-down (um dos tais pontos em que estas abordagens se encontram no meio e vêm consolidar-se). Sendo assim a mente passa a ser vista como um conjunto de módulos interactuantes implementados sobre aquilo que é o orgão cérebro em conjunto com todo o sistema nervoso. Uma perspectiva evolucionária vem permitir observar quase em detalhe a construção destes módulos, sujeitos a pressões evolucionárias tais como as que geraram a capacidade de mobilidade (que foi a motivação associada à extensão do simples sistema nervoso vegetativo das plantas), não uns a partir dos outros mas uns sobre os outros, com um nível de abstracção, poder computacional e complexidade simultaneamente crescentes.

A teoria de que a mente humana era construída de uma forma puramente memética vinha suportar que a mente humana se distinguia da mente dos outros animais visto permitir a aprendizagem genérica (seriamos assim um mecanismo de aprendizagem genérico), teoria à qual de certa forma se “encostava” grande parte das correntes de pensamento de há algumas décadas. Tem vindo a desenvolver-se um trabalho para desvendar até ao detalhe processos como o da visão ou a fala (que segundo muitos são mecanismos especializados do cérebro da espécie humana que se enquadram num cérebro modular e processam dados de e para outros módulos) e a aprendizagem associada a estes mesmos, e os pontos específicos em que ela se distingue do crescimento geneticamente programado. Face a estes resultados a mente humana toma a forma de um conjunto de ferramentas muito especializado, talhado pela evolução e consequentemente pelos desafios enfrentados pela espécie humana nos meios que atravessou. Apesar de tudo não existe uma abordagem concordante neste aspecto. Resistindo uma espécie de combate intelectual que tem vindo a decorrer. De um lado encontram-se os defensores de que os mecanismos específicos à espécie humana como a fala (e a utilização de símbolos que lhe está subjacente) são sub-produtos evolutivos de capacidades que foram cruciais para os nosso antepassados e que face a determinado estímulo do meio se manifestam, tendo todo um suporte nas estruturas do cérebro. Do outro lado os que defendem que as estruturas do cérebro humano em pouco diferem de outras estruturas símias excepto em questões de tamanho e que todo o conjunto de mecanismos cognitivos superiores é fruto de um processamento colectivo e não tem alguma espécie de suporte físico em estruturas cerebrais dedicadas mas sim numa mente capaz de pensamento adaptativo e com estruturas de processamento até certo ponto genéricas.
É provavelmente a versatilidade de mecanismos cognitivos humanos e capacidade destes gerarem novos mecanismos (como aconteceu com as provas lógicas por contradição, só para citar um exemplo relativamente simples) que os tornou capazes de enfrentar da melhor forma os desafios evolutivos que permite actualmente a sua multiplicidade de aplicações, entre as quais se conta a produção de uma civilização científica cujos suportes residem em estruturas complexas de interacção humana, tecnológicas, inteligentes e, de futuro, estou convencido de outros tipos de agentes artificiais dotados de qualia na sua interacção com o mundo.

O salto para este plano que é chamado de cognitivo não foi certamente um processo ocasional mas o acumular de uma série de vantagens evolutivas que estavam aderentes a muito pequenos progressos neste sentido, esses sim fruto do acaso. Daí a explicação para a sofisticação da mente humana que, comparada a muitos produtos da engenharia mais avançada parece simplesmente estar noutra dimensão, contudo apresenta, como se tem vindo a provar, um conjunto esplendido de soluções aferido pela evolução num período de tempo muito longo. Sendo que algumas dessas soluções têm um cariz semelhante ao subjacente no espírito da engenharia e, muitas vezes, funcionando mesmo como inspiração para a mesma (na visão artificial provavelmente também existirá uma camada de mecanismos modulares em que alguma das camadas terá uma funcionalidade semelhante àquela que em nós distingue as fronteiras dos objectos e processa paralelamente cor, traços e fronteiras).

As emoções vêm-se mostrar com um papel crucial na interface entre o universo sub-simbólico herdado dos nossos antepassados e as novas capacidades cognitivas simbólicas cuja actuação seria demasiado lenta e complexa para as tornar capazes em muitas situações de tempo real, tal como a IA nos tem vindo a demostrar na incapacidade aderente a sistemas de inferência com uma base de conhecimento exageradamente grande. Uma solução para este tipo de problemas é usualmente um pré-processamento não simbólico da realidade em causa de forma a simplifica-la num sistema utilizável pela lógica, que na IA é usualmente efectuado pelos humanos que desenham os mundos dos seus agentes, e o qual está demarcadamente presente no pré-processamento de que é alvo a informação sensorial antes de chegar às camadas de maior abstracção e conscientes do cérebro.

Naturalmente que a compreensão de certos mecanismos criativos, culturais e sociais se torna difícil dado um certo enquadramento computacional, especialmente dado o nosso ponto de vista subjectivo. A noção da pool memética e a visualização do universo de ideias em evolução, sujeitas a uma selecção dependente do seu efeito pode parecer um caminho muito mais natural sobreposto ao processo computacional da mente. Contudo esta visão deixa em aberto um problema que é o da geração memética, localizando-se aí o foco da definição de todo o conjunto de fenómenos cognitivos que se compõe na cultura, ciência, etc. É assim que nessa pool memética se podem encontrar comportamentos com um determinado significado cognitivo que estão largamente associados a focos da pressão evolutiva de que a nossa espécie foi alvo, como por exemplo é o da ligação cultural da prática sexual e das variações sobre as mesmas entre contextos culturais, mas contudo dotados de uma universalidade. E junto com estes artefactos encontramos outros que em nada terão contribuído para a sobrevivência humana e cuja proliferação em nada é limitada por essa razão, entre estes encontram-se por exemplo instâncias em formas de arte específicas que se apresentam como uma manifestação desprovida de qualquer sentido simbólico.


Efeitos primários e secundários da disciplina sobre o "Eu":

Até ao momento CCC veio-se apresentar como a cadeira mais interessante do caminho que percorro na LEI.
Para além de me abrir um novo horizonte em inúmeras áreas do meu interesse extracurricular - desde os interesses adquiridos e nutridos em tempos do ensino secundário até a interesses de aquisição recente, maioritariamente culturais, associados a filmatografia independente, obras de divulgação e ficção científica - esta disciplina veio trazer um impacto extremamente profundo às minhas vivências pessoais, na forma como me vejo a mim mesmo e especialmente na forma como vejo o mundo nas suas componentes social, para a qual comecei a estar mais aberto apenas recentemente, com um interesse crescente ampliado pelos conteúdos da cadeira, e profissional, se assim me for permitido referir à área da informática que tem sido naturalmente uma das áreas sobre a qual tenho efectuado mais computação durante os últimos tempos.
Inicialmente senti uma certa dificuldade (que só agora consigo reconhecer) em me orientar neste mundo das CC (que na verdade é o nosso dado o objecto do estudo) vista a quantidade de preconceitos sobre muitos dos assuntos que só agora estão a ser abordados de uma forma científica à luz de paradigmas como o da selecção natural. Apesar de estarmos em plena revolução da informação (talvez por isso mesmo, devido às inúmeras fontes de informação dúbia e pouco lúcida que proliferam) muitos dos conceitos relativos à mente humana presentes naquilo que podemos considerar o senso comum são completamente fruto de intuição e inferência simples (uma proliferação do senso comum, o que é grave dado a falta de criticismo), daí o seu enraizamento desde cedo (até mesmo as crianças se questionam sobre si, provavelmente após adquirirem a capacidade de “sentiença” - sentience - , a primeira chama de experimentação do “eu”) e a explicação para que até muito recentemente se tenham mantido nas mentes até dos mais elucidados e elucidativos. Se é difícil lutar contra dogmas como os associados à religião para os quais a intuição interior apontará apenas para os contornos (o suporte genético da religião) então lutar contra dogmas profundamente enraizados na forma como toda a nossa sociedade pensa e que para além de serem veiculados pelos memes são ainda suportados como uma intuição muito forte (olharmos para a matéria animada de movimento e olharmos para nós faz-nos pensar que temos algo distinto da matéria por detrás da nossa existência).
Agora é com uma nova perspectiva que aprecio algo como uma sitcom ou uma peça de teatro multimédia. Naturalmente que existem consequências potencialmente negativas deste processo, como de todos os processos de eliminação e afastamento da ignorância, como tal um questionar permanente pode complicar bastante os prazeres mais simples mas dota-nos de prazeres intelectuais sem igual. Contudo outros prazeres tipicamente intelectuais que poderiam derivar da ignorância e um certo estonteamento com algo que agora se me apresenta desprovido dos mistério iniciais, pautando o intelecto das abordagens simplistas (ou simplesmente menos recentes e efectuadas sobre outras luzes ainda algo obscuras) de um grau de inocência relativamente grande. Sinto isso ao ler o livro de Isaac Asimov, “Viagem Fantástica II: Destino Cérebro”, mas claro que o prazer perdido não é total, senão naturalmente não estaria a ler o livro e não encontraria nele muitas circunstâncias positivas de aplicação de pensamento científico.
Foi desta forma que senti nutrido o gosto pelo pensamento e manutenção de um pensamento lúcido em momentos e situações que antes lidava de uma forma semiconsciente e pautada por preconceitos e intuições.
Naturalmente que conforme Robert Wright menciona na introdução do "The Moral Animal", quando refere as consequências da aplicação da psicologia evolucionária, existe um reverso da medalha que se manifesta numa partida para divagações filosóficas em situações em que isso não se apresenta nada prático. Contudo julgo que as vantagens são muitas e podemos sempre esquecer a forma como a consciência interage com outras componentes do nosso sistema nervoso, a filtragem de informação de níveis inferiores, a pequenez da Short Term Memory (e as consequências disso que sentimos no dia a dia) e simplesmente deixar o nosso sistema actuar quando assim deve ser, debruçar o nosso pensamento consciente sobre o que sempre o ocupou em vez de o preencher totalmente com meta-computação, e, naturalmente, sentir maior naturalidade em certos comportamentos uma vez que sabemos algo mais sobre a sua origem. Deixando também de forma espaço para a formação de intolerâncias que em muito podem contribuir contra a aprendizagem e mesmo os alvos da aprendizagem (sem tolerância para com algo que não fosse o que lhe tinham ensinado no MIT e que desprezava as perspectivas evolucionárias Steven Pinker nunca teria avançado com as suas ideias unificadoras).

Neste momento continuo ainda a ler parte da bibliografia recomendada e a explorar por outras vias de forma a poder completar ideias que deixei em aberto nos sumários das aulas e sinto uma grande vontade de ter mais tempo para poder ler tanta bibliografia com que me deparo e poder escrever mais sem ter que me preocupar com a época de exames que está a chegar.
Assim escrevia eu antes de iniciar a época de exames, tendo durante a mesma vindo ainda a terminar de escrever os sumários e completar algumas leituras. Pretendo contudo manter-me ligado a este meio e tenho já alguns livros à espera das férias para poderem ser lidos.


Propostas:

Julgo que a realização de sumários e desenvolvimentos sobre os temas das aulas é um método de avaliação bastante capaz (junto com a avaliação da participação nos debates), mas julgo também que devia ser, mais do que um método de avaliação, uma forma de aprendizagem, e conter em si o respectivo feedback que dirige a aprendizagem. Concretizando acho que seria bastante vantajoso para o desenvolvimento de cada aluno bem como do nível dos debates existirem comentários pela parte do Professor a cada um destes sumários entregues bem como uma orientação um pouco mais próxima de cada aluno relativamente ao seu desenvolvimento na disciplina. Julgo mesmo que este feedback poderia actuar como catalisador da aquisição de conhecimentos e compreensão das matérias, que, de início, julgo ser bastante difícil face à multidisciplinariedade da área de Ciências Cognitivas e da necessidade de quebra de uma série de dogmas e mesmo preconceitos enraizados no senso comum contemporâneo.
Notas sobre a 4ª e 5ª Aulas de Computação e Ciências Cognitivas
Tema: "O papel cognitivo da consciência"


I - Sumário

O estudo dos processos cerebrais tem vindo a ter dois principais tipos de fontes de informação distintas. Através do estudo de pacientes com lesões cerebrais a determinadas zonas é possível verificar os papéis desempenhados por essas zonas face a capacidades perdidas e determinados comportamentos fora do normal verificados nos pacientes. Contudo a estrutura adaptativa do cérebro, chegando ao ponto de utilizar células neuronais dedicadas ao processamento de um sentido de que a pessoa venha a perder (por exemplo a visão) para processar outro tipo de informação sensorial, poderá indicar um ponto de invalidação destes estudos ao alterar desta forma o objecto de estudo nesses pacientes. Outro processo, que tem vindo a ter uma evolução rápida nas últimas décadas são as técnicas de imagem cerebral. Inicialmente limitadas à medição das correntes eléctricas presentes no cérebro (através de electroencefalogramas) neste momento permitem mapas tri-dimensionais (MRI) e o estudo dinâmico de processos químicos na mente (PET e fMRI). Contudo os limites são ainda muitos, não sendo possível chegar ao detalhe do neurónio e contextualiza-lo espacial e temporalmente vista a brutalidade de informação que isso representaria, não só a própria tecnologia de imagem que seria necessária.

O ponto seguinte na discussão foi a problemática de a consciência não representar apenas um estado binário e nem sequer ser algo único ao ser humano. Falou-se assim em níveis de consciência e a sua associação, numa perspectiva evolutiva, com os estímulos e desafios enfrentados e da evolução de várias camadas de consciência associadas com a evolução do sistema nervoso através das espécies.

Após a formação de estruturas multicelulares de um tamanho considerável a necessidade de um sistema de coordenação entre os seus vários processos internos originou um sistema suportado sobre o sistema de irrigação interno e que ainda hoje tem um paralelo no ser humano através da comunicação efectuada através de hormonas na corrente sanguínea. Naturalmente que este sistema é lento mas para seres não dotados de movimento isso não representa um grande problema. Contudo face à necessidade de movimento e às vantagens evolutivas daí retiradas a formação de um sistema de coordenação mais eficaz e eficiente levou aos primórdios daquilo que é o nossos sistema nervoso, este seu predecessor seria altamente orientado para a percepção sensorial e feedback. Só no momento em que a terra começou a ser povoada por animais que deixavam as águas é que a complexidade deste novo meio veio colocar novos desafios e colocar a necessidade de em paralelo com o aumento da inteligência dos sistemas nervosos já existentes viessem também a surgir níveis de consciência mais desenvolvidos que foram evoluindo. As vantagens da manutenção de uma temperatura corporal e a adaptabilidade ao meio daí surgida vieram colocar nova pressão nos mecanismos de controlo interno, muito especialmente nos mamíferos. A certo ponto da evolução nos mamíferos entram em jogo uma série de processos conscientes ligados ao próprio animal como a auto-monitorização ou a capacidade do animal se reconhecer a si próprio, apontando para um nível cognitivo que se prende com o "eu" já algo elaborado.

Falou-se do interesse no paralelo entre a filogénese e a ontogénese no ser humano. A gestação no líquido amniótico face à origem do reino animal nos mares, a aquisição gradual de níveis de consciência durante o crescimento. Durante o crescimento as ligações sinápticas vão-se formando, julgando-se que é aqui que se reflecte a aprendizagem e será em muito suportada a teoria de que o ser humano é um animal desenhado para aprender (da teoria de mente genérica talhada por processos de aprendizagem com origem no meio exterior), sendo que mais tarde o estabelecimento de novas ligações seja muito menos frequente ao mesmo tempo que a aprendizagem é também em muito dificultada.
As ideias da ligação entre a linguagem e o simbolismo aderente à nossa consciência vêm ajudar no estabelecimento da fronteira que nos separa das outras consciências animais visto a linguagem simbólica. Na nossa linguagem existem traços inventivos, de manutenção de estado (o que não acontece nas danças simbólicas abelhas as quais são facilmente explicáveis à luz de um comportamento de reacção perante um dado universo exterior com uma representação cognitiva associada) e também de auto-referência, sendo mesmo que o surgimento da linguagem é muitas vezes associado à emergência de um nível consciência cuja informação necessita de ser partilhada. Daqui partiu-se de certa forma para a exploração de uma consciência distribuída originada nesta necessidade, suportada na linguagem e mapeada nos fenómenos sociais de um caracter cognitivo por vezes bastante elevado. Apenas a existência de um mecanismo simbólico de alto nível emergente da consciência individual permite a veiculação de informação com uma representação cognitiva elevada e que por exemplo é veiculada em processos de ensino. Contudo os processos de aprendizagem não passam todos pela veículação de informação simbólica e são em muito suportados pela faceta sub-simbólica da mente humana. A nossa capacidade de aprendizagem por imitação mostra-se muitas vezes extraordinária. Sem a necessidade de uma interpretação cognitiva dos processos envolvidos no objecto de aprendizagem é-nos possível adquirir capacidades para executar tarefas complexas e só mais tarde entrar nos detalhes cognitivos das mesmas (podendo até efectuar uma adaptação do que foi aprendido ou retirar informação de mais alto nível mais difícil de se esquecer). Julgo que muita desta capacidade adere num suporte sub-simbólico comuns entre seres humanos, tal como a Gramática Universal como suporte genético da linguagem ajuda à aprendizagem da mesma outros mecanismos agem como suporte genético comum de forma a facilitar a aprendizagem por imitação.
Esta capacidade de aprendizagem por imitação é pouco frequente no reino animal apesar de estar mais associada com os mecanismos sub-simbólico da mente humana. É assim como que uma confirmação de que o que nos destingue dos outros animais não reside nas capacidades dos mecanismos simbólicos mas em toda uma extensão das capacidades, incluindo as sub-simbólicas.

Ainda no tópico da consciência distribuída num meio memético falou-se nos estudos psicoanalíticos Youngianos que se debruçaram sobre um inconsciente colectivo povoado por mitos. Pareceu-me assim apontar-se para uma abordagem do colectivo humano como uma só entidade em paralelo com a mente de um só indivíduo. Destacando assim um paralelo da necessidade evolutiva em criar na mente humana um fluxo de execução sequencial capaz de coordenar os vários módulos de processamento de informação e juntar num contexto cognitivo mais amplo e complexo com as várias instâncias de hierarquização social baseada em vários critérios (que em muitas das outras espécies animais são orientadas por uma via sexual: o macho dominante, etc.), mas que no geral pretendem coordenar um fluxo de execução social paralelo.

A condução do debate levou então a uma exposição das ideias mais significativas presentes em [DONALD] que eu exploro um pouco mais aprofundadamente na parte II.

Dessa exposição focamo-nos em ideias como a necessidade de projecção de conteúdo cognitivo presente numa consciência noutra, e daí o surgimento da comunicação, e das limitações aderentes a qualquer tipo de projecção (através de transmissão de informação), que no extremo serão limitadas pela subjectividade da experiência consciente (usualmente referenciada como qualia). Também nos centramos sobre a unicidade da mente humana que comporta a elasticidade de aptidões ao extremo de poder conjugar um conjunto de componentes da consciência naquilo que é chamado de skill mixing e de onde se permite originar inovação através da explosão combinatória de possibilidades que esta mistura trás. Na linguagem muitas destas facetas únicas da consciência humana são visíveis.

Falou-se ainda da memória como suporte essencial para a consciência, tanto a memória de curto prazo como a de médio e longo prazo, e mesmo a capacidade de troca de contexto e regresso a um contexto anterior sem ter que recorrer aos mecanismos típicos da memória de longo prazo. Donald Merlin explora a questão do endereçamento da memória mas no debate o foco foi sobre a redundância que esta demonstra, e talvez assim vários caminhos para activar a mesma memória. Por outro lado existiu alguma preocupação em focar alguma que é a problemática de localização das capacidades de memória e que tem apontado para um estudo mais profundo da constituição dos neurónios e células da glia, procurando associar a função de memória a estruturas presentes nos neurónios individuais (como os micro-tubulos) em vez de somente na rede neuronal em operação. Contudo falou-se de loops activos de memória, mas julgo que no contexto da teoria de consciência como um foco funcional no cérebro móvel e que assim permitia acesso a diferentes componentes em instantes diferentes, e que na memória representar-se-ia pelo facto de à consciência estarem apenas disponíveis as recordações associadas com a zona onde este fluxo se encontra num dado momento (de notar a fonte de não determinismo aqui presente).

Já na 5ª aula falou-se de uma influência do factor geográfico sobre a consciência. Esta ideia estará certamente ligada com a ideia de que a consciência é em muito um produto da memética. Recordo-me de ouvir falar de povos que criam que a sua consciência se localizava fisicamente não dentro do cérebro mas na zona abdominal, contudo julgo que esta corrente se referia ao povo dos Andes que mascava com frequência a folha de coca e daí usufruiria de efeitos alucinogénicos. Contudo a exploração do plano memético da consciência não deverá ser posta de parte e, tal como existem crenças de que a linguagem é em si todo um produto da memética, também a consciência o poderia ser, até como produto (ou catalisador) do simbolismo, nomeadamente de auto-referência, presente na linguagem. Ainda em relação com a linguagem é de notar a serialização típica do mecanismo e o papel de serialização atribuído à consciência. Contudo o paralelismo está presente mesmo na consciência (permitindo a execução simultânea de tarefas) e na linguagem onde existe elaboração suficiente para desenvolver conversas com algum grau de paralelismo, contudo limitado.

Apontando para a teoria dos jogos e da informação falou-se ainda de requisite vareity na perspectiva evolutiva tanto a nível das espécies como mesmo da memética. É interessante notar que a linguagem é uma ferramenta que permite a produções muito diversificadas, tal como a lógica, apresentando-se como um conjunto de ferramentas genéricas e extensíveis, capazes de suportar a requisite variety da memética.

Uma consciência capaz de efecutar manipulação da simbolos e de associação de ideias é capaz de produzir conhecimento por si. Na sua ausência desta capacidade só através da aprendizagem por falha poderia ser possível atingir esse conhecimento e estar-se-ia ainda que mais limitado pelas fontes de experimentação, limitando por completo a existência da abstracção necessária ao suporte civilizacional. Sendo assim: it seems failure is not allways the best way to learn (fazendo referência a uma citação que fiz na primeira aula). Contudo a aprendizagem por falha demonstra-se um mecanismo mais capaz de marcar fortemente o mecanismo emocional da mente. Evolutivamente este facto deve ser derivado da traição de outros indivíduos através da transmissão de factos errados - o que acontece por exemplo nos símios - e erros de inferência que podem conduzir a situações imprevistas, enquanto que algo que é marcado por uma aprendizagem por falha lida directamente com a realidade, sendo só por si um mecanismo muito limitativo e catalisador do medo.
Sem a complexidade de mecanismos de aprendizagem distintos, mantendo-se em nós os mais antigos sem perderem a sua importância, o ser humano não seria capaz de efectuar as miríade de tarefas crescentemente complexas (e a mecanização a elas adjacente que torna a sua repetição simples ou a aprendizagem por imitação que torna a utilização possível sem um domínio do detalhe). Julgo mesmo que é através dos mecanismos algo mais primitivos, sem os quais a mente humana seria demasiado lenta e frágil, que se suportam os mecanismos de aprendizagem mais recentes (existindo um feedback entre os mesmos, como por exemplo na mecanização de uma tarefa através da sua compreensão em misto com um processo de imitação) e que nos transportaram para um plano cognitivo muito mais denso, complexo e abstracto.



II - Desenvolvimento

Em termos de bibliografia julgo que assimilei as ideias chave que agora pautam o meu raciocínio no final do capítulo "Thinking Machines" [PINKER] em que a consciência é alvo de uma dissecação funcional que em muito mudou a minha forma de abordar o assunto e consequentemente mesmo a realidade social (I'm resorting to sorts of bottom-up aproaches more often in those matters).

A separação que Pinker faz para a consciência dispõe-se em três elementos. O conhecimento do próprio que está aderente a um modelo cognitivo da realidade onde se insere informação sobre o próprio indivíduo. O acesso à informação que é fruto da modularidade do cérebro onde a consciência se encontra num plano onde nem toda a informação do sistema nervoso está disponível, aliás o meio da consciência é relativamente diminuto (necessitando de utilizar a memória para completar uma espécie de buffer temporário que utiliza) e contem elementos principalmente de caracter simbólico associados a conteúdos mais detalhados dos níveis não conscientes inferiores (contudo este nível de percepção consciente é suficientemente detalhado para não nos levar a ter uma experiência demasiado abstracta da realidade). Existem contudo mecanismos de feedback em ambos os sentidos que permitem tanto processos como a aprendizagem de tarefas que inicialmente envolvem um processo consciente e são um foco de atenção para mais tarde se automatizarem passando para um plano inconsciente, como permitem a consciencialização de detalhes adjacentes ao mecanismo da visão ou notar detalhes sonoros no discurso de uma pessoa, ou mesmo até sentir a batida do coração. E a misteriosa sentience que se refere à experiência subjectiva, ao qualia no sentido da primeira pessoa, o "eu", e onde grande parte das dúvida persistem. Sendo que alguns lançam a teoria de que este terceiro elemento é apenas um sub-produto das necessidades evolutivas dos outros dois.


Merlin Donald [DONALD] adopta uma abordagem de certa forma mais clássica (digamos contida) e que se opõe a alguns dos pontos de outras teses como as que suportam a modularidade cerebral e o suporte genético resultante do processo evolutivo no que toca funções especificamente humanas como a fala. Curiosamente o caminho seguido na sua exploração está muito longe de ser pautado por alguma da obscuridade, muito pelo contrário, e não aponta simplesmente para a mente como um instrumento generalista moldado pela memética. Isto se bem que esteja mais próximo dessa visão do que daquela que a psicologia evolucionária transmite em relação ao conjunto de mecanismos oriundos da pressão evolucionária e em cujos sub-produtos estão suportados os pontos de ligação com a memética (indicando que a memética influi mais sobre mecanismos de mais alto nível do que aqueles como a linguagem que apenas sofrem a motivação memética para se revelarem, e não desenvolverem).

A exploração dos níveis de consciência entre as varias espécies animais e a sua correlação evolucionária é feita de uma forma muito envolvente. Trouxe de novo a ideia de que o ser humano não tem nenhum módulo cerebral adicional em relação aos seus antepassados e apenas é dotado de módulos cerebrais do dito 3º nível com maiores tamanhos.
A ideia de que a linguagem é apenas uma invenção humana, suportada por uma maior capacidade computacional nos níveis superiores de consciência (os quais se reflectem no próprio uso que fazemos da linguagem, por exemplo já na criança que demonstra as suas necessidades ou intencionalidade através de gestos), vai em muito contra as ideias de Steven Pinker de um suporte genético da linguagem que a torna algo exclusivamente humano e presente como uma capacidade inerente a todos os indivíduos naturalmente e cuja aprendizagem está em si presa ao suporte genético da linguagem.
Merlin apresenta os casos de que indivíduos nascidos em isolamento não demonstram qualquer capacidade para a fala e admite ainda que nesses indivíduos não exista uma representação mental simbólica elaborada (o "mentalês" mencionado por Steven Pinker).
Contudo penso que não se opõe por completo e não é inconsistente com a teoria de uma gramática universal que penso que foi inicialmente desenvolvida por Noam Chomsky. Sendo que o suporte computacional para os mecanismos que Merlin Donald considera simbólicos (defendendo também ele uma dualidade do sub-simbólico e simbólico na mente humana) será uma constante no genoma humano é natural que a convergência para mecanismos simbólicos externos tenha passos comuns em caminhos seguidos separadamente na história da humanidade.
Sendo assim a visão que se me depara face às ideias de Merlin Donald é a da mente humana não como um mecanismo de computação genérico moldado pelos memes, mas um mecanismo de computação simbólico, muito especifico e emergente (e sobretudo interactuante) do o nível sub-simbólico, e cujos produtos são naturalmente pautados por seguirem uma certa linha que os dota do determinismo necessário para a produção por sociedades independentes de mecanismos meméticos semelhantes (a linguagem e a religião entre outros).

Merlin apresenta também a teoria da consciência como um fluxo por contextos simbólicos associados a zonas cerebrais distintas, sendo esta suportada nomeadamente pela observação em doentes epilépticos que não têm ataques mas ao invés sofrem de períodos de inactividade consciente. Fiquei sem ter a certeza que era algo como António Damásio descreve e sobre o qual falo mais abaixo ou se mesmo uma perda de todo o tipo de actividade sem que mecanismos cognitivos inconscientes substituam o papel central da consciência durante estas falhas. Esta teoria é seguida de outra que veicula a ideia de um controlo electro-químico da permeabilidade à informação decrescente e controlável até às camadas cognitiva e evolutivamente mais elevadas do cérebro. Esta ideia é também resultante de experimentação e não se demostra inconsistente com a teoria de um fluxo consciente. Sendo que a consciência não é um mecanismo cognitivo permanente e nos vemos desprovidos dela em situações de sono, lesões cerebrais graves, etc. é natural que necessite de existir um mecanismo através do qual o cérebro impede a informação sensorial (processada nos níveis cognitivos inferiores) de atingir as zonas onde o fluxo de consciência iria receber essa informação. Julgo que esse processo de controlo deverá estar associado com as camadas que efectuam o processamento da informação sensorial de uma forma não consciente que podem por vezes alterar o permeabilidade desta para as camadas superiores por exemplo em situações de perigo apercebidas através deste processamento sensorial constante, existindo naturalmente também uma forte ligação com os mecanismos que implementam o metabolismo.

Como que a somar pontos para a questão da necessidade de uma forte multidisciplinarieade no assunto está a observação sobre os tipos de endereçamento que permitiram o funcionamento da memória e, apesar da comparação do autor com alguns dos sistemas mais simplistas destes processos, fica um vazio tecnológico de processos mais elaborados por explorar, que, julgo advir de um não domínio do campo da informática pelo autor. Contudo a forma como a exploração do assunto segue não deixa de ser interessante, apesar de não me ter satisfeito completamente e ter que recorrer a alguma simplificação sobre a questão da memória recordando-me das conclusões com que fiquei ao redigir o sumário da Aula 3 (a relação com a emoção como heurística no endereçamento da memória).

Contudo julgo que fica sem explorar um fio filosófico, nomeadamente a questão da subjectividade da experiência, e é desta falha que julgo saírem as conclusões, de certa forma decepcionantes, do Capítulo 5. Penso que de um esforço colectivo para, face à maior abrangência de factos possível, colocar este tipo de questões e procurar realmente respostas, é muito provável que se desenvolva (e terá vindo a desenvolver) um trabalho mais produtivo sobre a consciência em toda uma multidisciplinarieadade.


Foi assim que me debrucei também sobre [DAMASIO]. Inicialmente pareceu-me estar a observar uma redescoberta, muito bem desenhada e confirmada por situações com pacientes, da dissecação que tinha já lido em [PINKER].

Um paciente de Damásio (epiléptico) perdeu durante alguns momentos um nível superior de consciência (extended consciousness), perdendo a sua expressão facial (entre outras manifestações usuais de traços de personalidade, estados emotivos e emoções), os desejos, sentience (não encontrei tradução para este termo mas está generalizado na bibliografia sobre o tema portanto deverá existir uma tradução adequada), mas mantendo capacidade de agir no meio que o rodeava (por exemplo dirigiu-se para a porta, tendo contudo antes agido sobre objectos que não existiam sobre a mesa) e de se movimentar (nível de consciência mais abaixo - core consciousness). Transportam-se assim as emoções para um plano de consciência superior ao da acção, junto com o planeamento, a capacidade de utilizar informação do passado, e o estado emocional (mood, aqui em oposição às emoções momentâneas associadas à reacção), alterando também o foco de atenção sobre o presente (parte da selecção para processamento de entre a informação disponível num dado cenário - uma espécie de pré-processamento).
Julgava que esta capacidade de selecção de informação e pré-processamento era toda efectuada em camadas mais baixas, por exemplo como as que no processo da visão distinguem as fronteiras de um objecto de uma forma inconsciente (ver desenvolvimento na Aula 3). Contudo segundo Damásio parte deste pré-processamento (parece-me que o da visão não, estando de facto num nível mais baixo, e sendo assim Damásio estará a falar do foco de atenção associado a apenas um fluxo de execução que evita conflitos entre módulos cerebrais - a consciência) estará associado ao consciente. Contudo o seu paciente foi capaz de acção coordenada, conseguindo andar (os mecanismos mentais destes processos são modularmente independentes da consciência), contudo sem existir uma lógica aderente ao seu comportamento (a consciência evita conflitos respeitantes a um nível de abstracção complexo que manipula e se relaciona com níveis inferiores cujos conflitos são geralmente resolvidos em módulos autonómicos - por exemplo: qual o pé a avançar primeiro num passo).

Damásio dispõe a sua extended consciousness como uma camada sobre a qual se estruturam outras mais complexas (a modularidade da mente, com módulos que sobrepõem à consciência, ou noutro modelo processam informação da consciência), entre as quais está a inteligência, que me parece portanto considerada como algo que manipula um nível de abstracção superior (no sentido de simbologia representativa de complexidade informacional) ao da consciência.
Esta questão é fulcral para o tema que pautou a aula em foco, segundo esta visão a consciência não estaria meramente envolvida na camada superior de actividades como a tomada de decisão, com o intuito de resolver inconsistências, mas estaria apenas no caminho de um processo de complexidade crescente.

Outro ponto que toma vida na exploração de Damásio é algum do drama subjacente à consciência (penso que para aqui se nota logo no início do livro a sensibilidade do autor presente na observação cuidada do idoso que se dirige para um ferry em Estocolmo). A consciência, como sub-produto evolucionário, capaz de levar a estados de depressão (ou será esta apenas uma disfunção química do cérebro? julgo que não), em que existe uma disfunção das capacidades humanas para atingir objectivos e como que um loop de feedback negativo, ou ao suicídio (explicando de certa forma a motivação, de certa forma anti-evolucionária, com um sub-produto de um mecanismo gerado pela própria evolução). É esta a forma como a consciencialização da condição humana, das inevitabilidades da realidade e da incapacidade de atingir objectivos, pode agir contra a finalidade dos produtos da evolução.

Face à mutabilidade do autobiographical self Damásio destrona de certa forma a ideia de que é possível reproduzir uma dada instância de consciência de uma forma artificial, não face à complexidade da influência memética do meio na formação do ser mas pela sua unicidade no tempo e a sua forma como um processo evolutivo em si, cujo destino é traçado tanto do interior (desde os genes ao produto de uma acção de decisão ou planeamento complexa) como pela influência exterior. Contudo não vejo que não seja possível, através de uma influência externa, dar uma continuação a todo o consciente, passando-o de um meio para outro. Vejo face aos dados apresentados por Damásio, a juntar aos factos que desde o início do Semestre me têm flamejado nesta direcção, a adaptabilidade dos vários módulos de consciência para poderem ser reproduzidos artificialmente (uma das suposições apresentadas por Damásio) e ainda mais, mesmo a possibilidade de transferência da uma consciência humana para um suporte diferente sem ter que reproduzir um processo de estímulo exterior ao jeito de historial de forma a parametrizar a nova consciência, efectuando apenas a produção de um meio capaz de simular as funcionalidades do cérebro no que diz respeito à consciência e fazendo uso de um processo de transferência de todo um estado (informação) para o novo suporte (transferência esta que poderia mesmo ser feita transparente de forma a nem sequer alterar o autobiographical self - por exemplo induzindo um estado de indisponibilização de informação à mente consciente durante o processo). Julgo contudo que Damásio apresenta uma orientação oposta.


Bibliografia:

[PINKER]
"How the Mind Works"
Steven Pinker, 1997, W.W. Norton & Company

[DONALD]
"A Mind So Rare"
Merlin Donald, 2001, W.W. Norton & Company

[DAMASIO]
"The Feeling of What Happens: Body and Emotion in the Making of Consciousness"
Antonio, Dr. Damasio, 1999, Harvest Books

[DENNETT]
"Consciousness Explained"
Daniel Clement Dennett, 1992, Little Brown & Co

[DENNETT ON DAMASIO]
REVIEW OF ANTONIO R. DAMASIO, Descartes' Error: Emotion, Reason, and the Human Brain, 1994
in the Times Literary Supplement, August 25, 1995, pp. 3-4.
Daniel C. Dennett
Could be found online at on May 2002: http://ase.tufts.edu/cogstud/papers/damasio.htm

[DENNETT INTERVIEW]
THE COMPUTATIONAL PERSPECTIVE: A TALK WITH DANIEL C. DENNETT
http://www.edge.org/3rd_culture/dennett2/dennett2_index.html

Thursday, July 11, 2002

Notas sobre a 9ª Aula de Computação e Ciências Congnitivas
ON SEX


In an evolutionary point of view sex of course has a dense structure of pathways that stumble and bottleneck in it's domain. An individual without capability of reproduction will not be able to produce new individuals, but nor will an individual who reproduces with infertile opposite sex members, thus there is a need for the ability to distinguish between potentially fertile and infertile opposite sexed individuals (either procedurally or, in the human case, cognitively - mixed with other lower level heuristics of course - pheromones, etc. - many provided to consciousness through emotions).

Of course massive reproduction would provide means for survival through augmenting the number of subjects (in this case new born) of the survival process, but even this way the overall probability of survival would become much smaller as competition for resources would be immense among new born, also rendering resources spent by an individual that was to die latter on without reproducing himself rather useless. Another disabling factor to this method is the 9 month gestation period which limits the number of available mothers in a certain community.
Yet another dimension of the survival problem arises just after birth. If the individual is actually able to reproduce, the problem of conducing descendency to reproduction isn't of course over, his offspring is not fit to carry out survival on it's own, we are mammals and have one of the longest unautonomic parental dependency periods among mammals, there is need for providing a nurturing environment that brings safety to the child and teaches him in order to be fit to survive, reproduce and raise his own offspring (much of which is supported by genetic mechanisms we are mostly unaware of, manly because they are triggered by environment stimulus, specifically of the memetic sort). Notice that this post born phase might be done by any other individuals, as is proven worldwide in a range of different cultures and among occidental cultures in cases of most misfortune when parents die after their descendency is brought to life.
This poses a question that was also raised during the debates (even though posed through a different line of reasoning): why does monogamy (specifically the two progenitors raising their own offspring) flourish among modern societies? I think my previous reasoning has rendered massivity of reproduction impracticable, still there are quite some alternatives to monogamy as we see today open for exploration. First of all there might be a continuous exchange of partners (for example each individual could have 5 or 6 children each from a different partner during his lifetime), with a period long enough to avoid female saturation, but assuming a roughly equal number of males and females this starts to bring us closer to the reasons for monogamy. Adding to the 9 months gestation period each female would not support the raising of a child on her own cumulated with consecutive pregnancy. If the male progenitor was to help with this task then he would have to spend a considerable part of his life committed to it, not enabling him to easily find another female to reproduce with, specially if he was to accumulate the raising of two children from different mothers. So I think this is showing traits of an operational problem, one way to facilitate the process of reproduction with another female was the male gathering his new female acquisition in the same location where he is living with the previous female thus giving origin to the polygamy model. Notice I started using the word acquisition, showing a greater relationship (in the operational sense), due to the sharing of the responsibility of raising the child, sharing of a common living space, prolonged in time by serializing child births in this small community centred on the male in question.
Of course the polygamy model violates the resource availability ratio between males and females, even if the roles of the polygamist (not "polygamer") are to be exchanged from male to female. The only scenario where polygamy would fit is a scenario where some males would be left out without partners, which of course would be a source of fighting back against the model, sort of a natural balancing fleeing away from polygamy.
Up until now I've kept the reproduction and upbringing of child connected but there is no need for it to be that way by principle. Childs could be raised in a community, taking profit from slightly similar aspects as those which render economies of scale so profitable, namely the optimisation of resource usage among the community (applied to both child and grown up members contributing to the children pool present in the community). This model is adaptable to fit the previously posed limitations and has had development along political ideologies as those of communism, still what is most striking in this model is the way it fits part of the modern day responsibilities of bringing up children shared by a community which provides organized instruction facilities through specialized individuals. Not being so extreme to counter the innate behaviour of parental bonding and protection of their own offspring as communist theories pose the model which is nowadays wide spread, based on a monogamous reproductive organization (with some adjustments as permitting separation from marriage to pose solution to the problem of lost effect from chemical mechanisms - namely the PEA amphetamine - that evolution provided to maintain individuals engaging in reproduction bonded during the period of raising of their children).

The long gestation period and the also long growing up when human child are highly dependent upon their parents are not unique to humans and should have evolved in earlier stages thus already be limiting to the latter stages of cognitive evolution of the human species.

Up to now the focus of my writing has been that sex with a reproductive aim has adjacent limits that guide and have come to tailor it into an art that we might nowadays call the art of love or passion. Indeed we are familiar with the complexity of partner choice, the mutual agreement and levelling of potential and interests. This levelling has the influence of a mixture of lower level dynamics acting on it, both processes noticeable through emotions and which we can react upon rapidly and eventually processes which have no emotional mapping but which trigger other responses bodily (and eventually side effects), those last which can then be perceived by our conscious flow and we are rather familiar with (namely a faster heart pace and even sweating). Still the influences to the levelling that in the end will render two persons together for reproduction (and what is further involved) is also coming from the cognitive side and even fruit of "non natural" logical planning and reasoning.
Naturally there is not only the interest of reproduction, nor of rendering descendency safely to social life, there is of course a growing interest in the by-products of a personal relationship needed for the provision of the previous - mutual help, simple company satiating some of the social needs of humans, material needs (notice the multicultural association of marriage with goods trading, still represent today through gifts - which I think is more of a keeping from the past due to it's practical benefits and cultural roots), and, in extremis, the development of a shared consciousness, at least in the utopic minds of many lovers. Naturally narrow band provisions of our communication channels, even those based on heuristics (the way lovers at times talk about mutual understanding without the need to say much words) render this possibility limited as there is no way to exchange even a part of the overwhelming quantity of information that reaches and leaves our individual consciousness, still good communication can provide a very good approach some might say.

In Consciousness Explained Daniel Dennett poses love as somewhat a dissected phenomena of human behaviour and derives from this dissection the lost innocence that lies within readers of gothic romances namely, pointing to an eventual parallel with the dissection of consciousness. This loss is truly a problem many mildly elucidated members of modern society have to deal with and has manifestations widespread through cultural icons, namely the standard US sitcoms. It is indeed troublesome to let natural mechanisms act and interact with them if our knowledge of their routines (algorithms) is enough to predict reactions that otherwise would seem magical and astonish us. I personally feel this agony and have developed my own perspective into love and personal relationships, might it differ too much from what is socially accepted that renders me an idealist I don't really care. My personal model is of course changing in face of experience, I don't find it anymore that sharing many common memetic roots (common cultural, aesthetic, ideological and moral experiences liked by both and which have been found separately, sometimes leading into a whole cultural pathway crossed by each separately, providing much building ground for future experiences) is enough to satiate the kind of questioning posed by my sense of well-being, nor is it strong enough to bring someone close enough for other lesser memetic experiences to arise naturally. Still something that troubles me deeper doesn't actually lie within my actions but on those of people who surround me in society.


Slaves of sex?

Lets now turn to somewhat a darker side to the by-products of evolutionary pressure on reproduction. Naturally with a consciousness to deal with information from lower level information processing modules and especially one which bases much of it's processing on heuristics that come to us as emotions it's natural that sex should have an emphasis above most other emotions, not only as an emotion but as collection of such emotions ranging from the stimulus provided by excitation that will make someone interested in another person and engage in future planning so as to make that presence effective to the actual explosion of emotions of the sexual act in itself. Of course that bearing the limitations posed by excess sex and the evolutionary unbearableness of it's consequences, if the sex act converts into gestation of children with a certain frequency then the frequency of the act is in itself limited. Nowadays, with several mechanisms for disabling the reproductive functionality of sex, these limitations are not posed and the pleasure that comes as a by-product of evolution and not as an objective in itself is now an objective in the current social view imposing itself for at least a few decades. Even though the genetic support tailored to those limitations on sexual activities is present and cannot change in such a short little while since the implementation of contraceptive techniques it is being overridden by a global memetic pressuring emphasizing sex that stimulates the genetic support in ways it was never stimulated. And as one of the limitations imposed, monogamy is not put to much risk from this (the 60s group society with free sex experiences degenerated into pairings inside the society naturally) the sexual driven behaviour tends to push social relationships to this new limitation that is the need for sex as an aim itself. Even if sexual partners are not fixed (either by serialization, betrayal or mutual acceptance of parallel activities) the social group relationship suffers from this pairing that drives people who are controlled by such drives further away from each other. This is the reason for my choice of topic before this paragraph. With this I try to focus on a tendency to lower very important things in life, not only the social life but in reality, work practices, motivation, personality strengths (as for example the moral - maybe a UM: Universal Moral), to a slaves of sex and sexual practises as they tend to shape themselves.
From this point of view I also draw conclusions on the importance of memetic influence and social shaping that I had started to minimize since writing for the 3rd class. As I was reading a bit in The Meme Machine (Susan Blackmore, Richard Dawkins) I came to realize the importance of mimetism, short of uniqueness and it's higher level as a learning mechanism, and of course the consequences it has on the importance of the memetic pool even when viewing the human brain not as a generic learning machine capable of becoming just anything. As mimetism is applied to higher level concepts and behaviours leveraged themselves by genetic mechanisms adapting to new situations the widespreading of social phenomena is almost impossible to sustain, even though the nurturing of a criticism, reasoning and moral may help avoid applying mimetic learning to social disorders that might otherwise spread quite rapidly.

Pornography comes to play an odd role on mechanisms designed for reproduction and enables dwelling in the cognitive realms of sex that might prove very interesting. First of all pornography picks up mainly on high level, conscious, mechanisms, there are no pheromones sprayed over Playboy magazines, only pictorial representations which even a child can distinguish from a real person. Thus easily higher level mechanisms can set the pornographic experience apart from a sexual experience, but even though should the experience and it's pleasuring be triggered from only a cognitive perspective or are there lower levels of processing involved with the image that might be similar to viewing an attractive female in the distance (good for reproduction and eventual raising children, if imagery can pass that kind of information). If the vision of a female is distant enough not to provide pheromone and other information exchanges other than the visual (and eventually audible) one there might be a similarity for the lower levels of human information processing, not involving cognitive processes through which the individual could distinguish between the two experiences, but triggering the same set of processes which would ready the individual for a good approach to the female and prepare for an eventual intercourse latter on. Still at this point there is no such thing as pleasure (unless we consider precoce ejaculation which usually happens with a much closer contact with a female). So what makes an individual feel pleasure from a pornography stimulus? The mechanisms may only be the by-product of evolution as there is no advantage from this kind of behaviour and no such stimulus present in the environment surrounding human evolution (any male individual tunnelling his sexual potential towards masturbation when excited by a female presence would not reproduce more easily, even though he might satiate some mechanisms of his sexual need and become more stable). Still there might be a pathway to explain some gain in effect from masturbation. This way was pointed out on one of the documentaries showed to us in class, masturbation will make for sperm renewal and augment the number of sperm cells contained therein thus providing a better chance for insemination of a female being penetrated after the sperm has been renewed (thus obviously not right after masturbation). So eventually an individual without making use of masturbation would have less chance of inseminating the same female as an identical individual who did, rendering masturbation an evolutionary advantage and not just a by-product.
Returning to the cognitive implications of pornography now that I think I have made a point of an evolutionary advantage in masturbation, thus connecting pornography (which is a good trigger for masturbation) to a feature that has been evolutionarily selected thus has a genetic support. Pornography might work either towards these same goals that have derived from evolution or might just be used to pose positive feedback to those mechanisms without accomplishing their aims, somewhat similarly as what happens with sex only for pleasure.
Even though the cognitive mechanism faces pornography not as a reproductive pathway the images an individual is posed to will undoubtedly be memorised similarly as the images of several potential sexual partners being selected and entering the levelling mechanisms of though and emotion that will move passion and bonding forces in future situations. This points to the problem of maladjustment of beauty and levelling aims, not only posed by pornography but by the massive amount of faces and bodies continuously exposed to an individual through the media, city life, etc. Still this problem doesn't seem to pose a great problem due to our cognitive distinguishing of each context (it would be very difficult for most individuals to bond with a super-model who they have only seen on the media) and so should only give rise to a certain degree of discontent with what otherwise could be considered a good partner. But this is not a new problem but a higher scale of an ever present problem that the mechanisms of levelling (that make it possible for a not so attractive person to fall in love with someone who is not so attractive too) seem to have been solving up to now.

Saturday, June 22, 2002

Notas sobre a 3ª Aula de Computação e Ciências Cognitivas
Tema: "Razão e Emoção, Deliberação e Reacção"


Pretendo neste texto apresentar as principais ideias que consegui captar no debate da aula referida, isto sob o tópico "Sumário", após o qual pretendo então desenvolver alguns pontos. Esse desenvolvimento procederá através da minha opinião e conhecimentos prévios mas também pretendo abrir um leque de fontes bibliográficas diversas como as indicadas pelo Professor, descobertas na Internet (páginas pessoais sobre autores da área, citações online, artigos, opiniões sobre teses, livros, etc.) e também exploradas entre fontes já conhecidas: revistas (Scientific American), literatura de ficção científica, (ultimamente tenho encontrado inúmeras relações de muito material que leio, experiências por que passo, com as abordagens da cadeira e desenvolvimento retirado da mesma, apesar de tudo toda esta informação ainda se encontra de certa forma desconexa... espero que escrever estes textos me ajudem a organizá-la).


I - Sumário:

Um dos primeiros pontos focados foi o de que muitos animais têm padrões de comportamento típicos. Podendo este fenómeno advir da realização dos mesmos comportamentos de uma forma consciente, existindo apenas a repetição de um raciocínio, existem estudos que demonstram que estes comportamentos não estão de forma nenhuma do lado da razão nem da consciência, sendo até que muitos animais consideram-se desprovidos destes mecanismos na sua totalidade ou apenas de algumas camadas superiores que são exclusivas do Homem.

Será então que estes animais são simples executores de código genético (onde estão codificados os padrões de comportamento)? Penso que a questão deixada em suspenso será mesmo se existe acção sem emoção ou razão.

O foco moveu-se assim para a emoção e o seu efeito sobre a razão. Como seres humanos, através quer de introspecção como de observação de comportamentos exteriores, já lidamos alguma vez com situações em que a emoção se sobrepõe ao sentido da razão e o resultado é uma acção movida pelo ímpeto oriundo de uma emoção. Julgo que tanto são observáveis casos em que a emoção é o único agente de um comportamento como casos em que a razão entra em competição (na linha de pensamento) com a emoção, sendo que muitas vezes a segunda é mais "forte" em determinado tipo de pessoas e situações. Deste combate figurado penso que advém um dos pontos discutidos na aula que é o de que a razão entra em acção no pensamento muitas vezes em que a emoção gera resultados incongruentes, portanto é lenta no seu processo de passagem do comportamento gerado para a acção, e logo dá "tempo" para que a razão produza também resultados. É desta forma que se pode ver a razão como solucionadora de questões de incongruência ("colisões"/indecisões) na emoção. Penso que, por vezes, quando a acção gerada por uma emoção (aqui como reacção) leva mais tempo a ser executada, a razão acaba por interferir mesmo sem existir uma situação de colisão com a reacção gerada pela emoção ("Apetece-me tanto este prato, mas não quero gastar o dinheiro, está muito caro..." é uma frase bastante ilustrativa desta situação).

Afastando-nos um pouco destas questões, de uma índole mais do foro da psicologia comportamental (behaviourism) ou mesmo da filosofia, o debate enveredou por uma exploração da natureza do cérebro. A ideia é que sendo este composto por camadas cada uma delas corresponderia a um estado da evolução do reino animal (o paleo-cortéx corresponderia ao cérebro dos répteis, etc.). Sendo assim para além de uma ligação directa entre as capacidades mentais de cada estado evolutivo das espécies que nos precederam na árvore evolutiva existe também uma sobreposição destas camadas em algo que nos leva ao paralelo com a relação do Software (cf. camadas mais recentes do cérebro) com o Hardware (cf. as camadas mais antigas). Contudo estas novas camadas têm um suporte físico, só por si bastante maior do que o das camadas mais antigas, e, sendo assim, as camadas mais antigas não são o suporte físico das mais recentes, ao invés oferecem as suas capacidades e funcionalidade às novas camadas, daqui uma ideia de um sistema de computação distribuído e modular (pelo menos fisicamente). Sendo que no ser humano existe um modelo simbólico associado à visão este não estará no seu todo presente nos répteis (nem sequer está nas crianças recém nascidas visto que parte dele é aprendido) e como tal julgo que a visão num nível mais básico, sub-simbólico, será uma funcionalidade do paleo-cortéx que disponibiliza os resultados do seu processamento às camadas superiores, tal como num modelo de camadas frequentemente encontrado na informática (cf. o modelo OSI para protocolos de comunicação em redes de computadores), em que a informação processada nos níveis inferiores é passada aos níveis superiores onde tem um significado sintáctico o que no nível abaixo tinha significado semântico, compondo-se assim uma nova semântica sobre a semântica do nível inferior.

Outros tópicos mencionados no debate foram a inteligência emocional, a psicologia evolucionária, o papel da hipófise e da epífise e a discussão sobre algumas das funções do córtex cerebral (planeamento, modelo visual da realidade), relacionando-se estas funções com as capacidades perdidas verificadas em doentes com vários tipos de lesões cerebrais conforme nos tinha sido exposto num documentário visualizado. O papel do cerebelo na coordenação dos movimentos, a sua autonomia mas contudo a sua ligação com a consciência e disponibilização de informação processada a outros processos do cérebro. Talvez parecendo um pouco fora do tema falou-se no papel de algumas hormonas produzidas pelo organismo de forma a diminuir a dor em situações de danos físicos graves ou as endomorfinas produzidas durante a cópula e com um efeito calmante (diminuem a dor e afastam o medo), contudo este tipo de mecanismos demonstra de certa forma a natureza química das reacções humanas. Julgo que vimos também algumas situações em que o instinto e a emoção são manipulados pela razão (por vezes tomo notas de pensamentos meus e não me recordo se foram veiculados no debate ou se apenas os quis manter para um desenvolvimento posterior). Alguns destes tópicos são fruto de algum desenvolvimento na secção respectiva.

Já em jeito de terminação voltamos à questão de ligação entre a emoção e a genética discutindo o facto de que se concluiu de estudos das expressões faciais de vários membros da espécie humana, largamente separados geograficamente e muitos culturalmente isolados da civilização (cf. o tipo de estudo efectuado para estabelecer se o ideal de mulher era partilhado, documentário visualizado numa das aulas), que muitas dessas expressões (aqui vistas na perspectiva de exteriorização das emoções) eram comuns a toda a espécie humana (um conjunto de expressões básicas às quais se acrescentava uma série de expressões de emoção dependentes do meio cultural). Este facto como que aponta para uma relação grande das emoções com os mecanismos humanos originados na genética, sendo que a estes a educação (aprendizagem) e mesmo o raciocínio interior vêm acrescentar e por vezes mesmo alterar (em alguns casos com consequências muito negativas - como por efeito de doenças mentais). Espero contudo que desta minha última frase não se depreenda erradamente que defendo a "pureza" da emoção em detrimento do seu alargamento através das capacidades cognitivas da consciência.



II - Desenvolvimento:


Autonomic Nervous System (ANS)

Localiza-se fora do cérebro, no sistema nervoso periférico, e é responsável por funções automáticas essenciais para a sobrevivência. Portanto as reacções por ele geradas (como o aumento da tensão arterial) não fazem parte das nossas acções conscientes. Este sistema pode contudo ser controlado pela consciência (existem indivíduos que com muito treino e capacidade de controlo são capazes de alterar o seu ritmo cardíaco ou a sua pressão sanguínea).
Estaremos assim perante um agente essencial para a sobrevivência do nosso ser que pretende ser altamente especializado, separado da capacidade de processamento do cérebro mas comunicante e interactuante com este (cf. sistema informático distribuído). O carácter crucial e especializado deste sistema aponta para as fases iniciais do desenvolvimento animal, parece assim que o modelo das camadas cerebrais (e neste caso estendido a todo o sistema nervoso) se aplica.[ANS]

Aprofundando um pouco a questão (após alguma conclusões tiradas numa conversa informal em que tentei apresentar resultados deste raciocínio) é possível verificar que os estímulos a que respondem as componentes deste sistema (o Sympathetic NS, em casos como o de uma ameaça de um urso, ou o Parasympathetic NS em situação de relaxe, após uma refeição por exemplo) advém de uma percepção que ocorre no sistema simbólico/de inferência(1) do cérebro (por exemplo o reconhecimento do urso à distância). Como tal este sistema não poderá ser considerado autónomo (mesmo o nome Autonomic apela apenas a um reflexo automático), dependendo da interpretação da percepção da realidade efectuada pelo cérebro é apenas um organismo que reage segundo um dado padrão, automaticamente (cf. os padrões de comportamento típicos nos animais, de origem genética; julgo que no caso do ANS será algo mais elementar ainda, se bem que também é passível de controlo consciente).
Julgo assim que o ser humano com a sua consciência (e ego a condizer) actua muitas vezes nas mesmas áreas que em outros animais são apenas controladas a um nível de padrões de comportamento inerentes à espécie, isto visto estas áreas de acção serem passíveis de uma maior, mais fácil e intuitiva intervenção consciente do que acções como as do ANS.

Já o Enteric Nervous Sistem, responsável pela monitoração e controlo do aparelho gastrointestinal, aparenta outra dimensão, não só pelo seu número superior de neurónios, mas especialmente pelas capacidades de aprendizagem que nele foram identificadas [ENS].
É na sua essência também um sistema de comportamento reactivo ("reflex behavior" [ENS2]), reagindo com a paragem da digestão em situações de perigo discernidas pelo cérebro (que controla o ENS até certo ponto), mas também reagindo com base na percepção que tem do sistema que gere (sendo mesmo possível continuar a funcionar na ausência do sistema nervoso central, resultado das primeiras experiências no campo levadas a cabo por William M. Bayliss e Ernest H).
A capacidade de aprendizagem do ENS reflecte-se no tratamento de em doentes que não possuem células nervosas no tracto final do recto, aos quais se removia a porção defeituosa do cólon, para o ligar à parte adjacente ao ânus, sendo que passados alguns meses (cerca de 18) as funcionalidade nunca antes efectuadas pelas células substitutas permitiam já o pleno funcionamento do sistema no doente, permitindo uma defecação perfeita.
Daqui podemos retirar conclusões relativamente ao tema do debate, aliás, é um dos objectivos do estudo do ENS a possibilidade de este, por ser mais simples que o cérebro, apontar na direcção em algumas áreas do estudo do cérebro humano. Se no ENS encontramos a capacidade de aprendizagem julgo que é inegável que a capacidade deliberação não lhe pertence. O ENS é apenas capaz de percepcionar as condições do seu meio, agir segundo uma espécie de pré-programas que podem ser produzidos pelo estimulo (nomeadamente do cérebro, por exemplo quando uma criança aprende a utilizar a sanita) através de um processo de aprendizagem. Fazendo um paralelo com o cérebro, será que aquilo a que chamamos consciência e que julgamos deliberar por nós não é mais do que um ENS controlado por estímulos do mundo exterior? Onde estaria então neste paralelo a entidade equivalente ao cérebro que utilizamos para estimular e ensinar o ENS?


Ao começar a escrever sobre o ANS e o ENS, surgiu-me a seguinte questão:
"Será que faz sentido uma abordagem do sistema nervoso em que se pretende fazer um paralelo com um sistema distribuído (abrangendo todo o corpo)? Será que existe distribuição de alguma forma de "processamento" cognitivo, mesmo que não sob a forma consciente?"

Uma vez que o ENS e o ANS lidam com estímulos por detrás dos quais existe um modelo cognitivo no ser humano poder-se-ia pensar que estes sistemas processavam informação de uma forma cognitiva, mas face ao que li sobre o conexionismo e a sua associação com sistemas sub-simbólicos, julgo que o que se passa é que o cérebro lida com os modelos simbólicos, ensinando o seu sistema sub-simbólico, que no caso está fisicamente localizado fora do cérebro, de forma a que o sistema sub-simbólico possa actuar de uma forma quase imediata enquanto que o nosso sistema simbólico só irá produzir informação útil depois, justificando situações em que agimos sem saber como e só depois obtermos uma justificação simbólica com base em inferência sobre o nosso conhecimento (estou a ir um pouco contra uma ideia que vi veiculada num documentário sobre a Consciência de que as explicações eram um artifício da mente para nos iludir de que tínhamos agido racionalmente, e nem sequer tinham nada a ver com a justificação da acção realizada). Naturalmente que em situações novas e sem um mecanismo de inferência simbólico o ser humano iria estar dependente de reacções dos mecanismos sub-simbólicos que não estavam ensinados para lidar com essas situações e como tal seriam provavelmente desadequadas.
Uma criança não foge de um urso antes de aprender o que este é, mas poderá fugir de uma "fonte de sons estranhos", quero assim dizer que até certo ponto existe "conhecimento" que se transmite através dos genes - como nas espécies de animais em que não existe aprendizagem, já no ser humano o "conhecimento" transmitido através dos genes será mais diminuto face à grande quantidade de conhecimento que necessita de ser aprendida, daí poder-se julgar uma criança humana mais inocente em termos cognitivos do que crias de outros animais. Contudo após a cimentação dos seus mecanismos de inferência e dado que tenha uma boa base de conhecimentos o ser humano é capaz de superar qualquer outra espécie a lidar com situações novas: um grande ponto a favor dos sistemas simbólicos contra os sub-simbólicos. Vejo assim traçado um quadro em que o sistema simbólico em que temos influencia conscientemente, controla e modela os sistemas sub-simbólicos que são autónomos em termos de reacção, tomada de decisão, etc.



O Cérebro:

A necessidade de investigar um pouco sobre o sistema nervoso periférico surgiu quando lia o artigo da Encarta sobre o cérebro [Encarta BRAIN]. Tinha antes lido sobre o ENS que existia um “cérebro na barriga” em alguma revista sensacionalista e não quis limitar-me dessa forma. Após ter compreendido até certo ponto a autonomia destas componentes do sistema nervoso, a sua independência da nossa consciência e os traços da interacção com a mesma, já é com mais facilidade que vejo o enquadramento da consciência sobre camadas de funcionalidades cerebrais que não lhes são completamente acessíveis, que são autonomamente inteligentes e funcionam como módulos de processamento de informação especializados e parametrizados por uma aprendizagem que parte da consciência e da nossa capacidade de efectuar pensamento de inferência, entre outras formas.
No que toca ao cérebro a sua complexidade pode ser desmotivadora quando se lê algo como [Encarta BRAIN] e se tenta confrontar com o modelo da teoria computacional da mente e até mesmo com as redes neuronais. Contudo é maravilhoso quando através das neurisciências obtemos informações que correlacionam profundamente o suporte físico do cérebro, as ligações e zonas de actividade, com o objecto do raciocínio e observarmos os dados que se obtêm também ao nível consciente do paciente alvo da experimentação. Controlando-se a fonte exterior de estímulos ao cérebro, portanto parte do input, pode-se observar o resultado do processamento em alto nível presente na mente da pessoa que é objecto do estudo enquanto se mapeiam em tempo real os fenómenos físicos decorrentes através de técnicas como o fMRI.
Na anatomia do cérebro existem mesmo estruturas que são evolutivamente mais primitivas (de origem reptiliana) e que para além de funcionarem como processadores paralelos de informação sensorial, disponibilizando o resultado deste processamento às camadas superiores (nomeadamente à consciência com o seu fluxo de execução em série), funcionam também com processamento reactivo a determinados estímulos menos complexos. Nomeadamente é de referir o papel do brain stem, na base do córtex, fazendo a ligação com a medula espinal (onde se situa o ANS), onde para além de existirem estruturas dedicadas a este processamento de informação a baixo nível existe também a formação reticular que é responsável pela filtragem da informação que é enviada às camadas superiores, situadas no córtex. É assim que se pode concluir que a reacção tem um campo de operação relativamente limitado em termos da complexidade das situações com que pode lidar, por exemplo não conseguimos reagir sem recurso à razão ao estímulo de um desenho de “Onde está Waldo?” só porque este veste uma camisola de riscas vermelha e existem outras camisolas com riscas e outras vermelhas, enquanto conseguimos reagir sem recurso à razão a um estímulo de um conjunto de objectos com riscas onde existe apenas um sem riscas que se destaca naturalmente (distinção esta entre objectos com e sem riscas que é feita ao nível semântico do processamento visual básico e inconsciente). Contudo a filtragem da informação que atinge as camadas superiores torna o campo de acção da razão também limitado, atribuindo-lhe apenas um nível de abstracção médio ou elevado: não podemos raciocinar sobre o padrões de ondas por detrás do som de uma letra sem fazer recurso a instrumentos sensoriais não humanos, nem nunca faria sentido pedir a uma pessoa para se levantar quando ouvisse uma onda sonora com uma determinada componente, embora esta informação esteja a ser processada nas camadas inferiores, indicando portanto no sentido da modularidade da mente humana e ocultação da informação entre os vários módulos.
Se contudo considerarmos apenas dois tipos de processamento, a reacção aos níveis mais básicos do processamento de informação sensorial e um nível racional superior não estamos certamente a capturar a grande versatilidade da mente humana e os vários planos de processamento envolvidos na acção/reacção, nomeadamente estamos até a ignorar o papel da emoção (que certamente está mais próxima da cognição e razão humana do que a as reacções de baixo nível, sem contudo ser algo de racional e lógico na sua essência).
Nos artigos [EMOTIONS; EMOTION AND THE ANIMAL BRAIN; EMOTION AND THE HUMAN BRAIN – MITECS] confirmei algumas orientações anteriores no que diz respeito às emoções: a emoção num nível intermédio de cognição, o efeito posterior da cognição com possibilidade de alterar o decurso de uma acção e efectuar alterações graduais sobre a reacção associada à emoção causadora dentro de um dado contexto – aprendizagem, de forma a lidar com novas situações, tal que numa situação seguinte a reacção a mais baixo nível tenha sido manipulada pela razão através da aprendizagem em situações anteriores. Ainda o papel representativo da consciência mesmo quando existe uma emoção envolvida, a relação da emoção com o acesso a memórias e a visão da emoção como uma heurística (tanto no planeamento de acções, como na pesquisa na memória de médio e longo prazo).
Naturalmente que cada ponto acima indicado tem um certo desenvolvimento próprio e contexto mais específico. Por exemplo em [EMOTION AND THE ANIMAL BRAIN – MITECS] a emoção (no caso o medo) está presente em vários níveis de complexidade e em localizações cerebrais respectivas, grandemente associadas à amígdala (que tanto tem ligações neuronais às fontes da percepção, às zonas do córtex com capacidades cognitivas e conscientes e ainda ao brain stem com capacidade de execução de acções, daí a rapidez de reacção possível quando num processo de reacção emotiva de baixo nível e inconsciente). Os níveis inferiores serão naturalmente os evolutivamente mais arcaicos, têm um suporte genético mas julgo que existe um mecanismo de feedback da consciência (razão) que vai parametrizando estes mecanismos conforme as decisões que são tomadas posteriormente nos níveis superiores. Julgo que mesmo nos casos em que os níveis inferiores produzem uma acção a emoção segue o seu caminho para a consciência de forma a que este fluxo de execução verifique a correcção da acção tomada (cf. interrupt do hardware num programa de computador), penso que é daqui que surge a tese de que as emoções no plano consciente eram um fenómeno passivo posterior à reacção, William James (1884). Julgo assim que existem, nos seres humanos (e provavelmente noutros primatas que controlam conscientemente, até certo ponto, as reacções face a uma emoção), dois tipos de reacção às emoções, uma de rápida acção, de baixo nível e inconsciente e outra consciente, posterior e cujos efeitos se verificam em reacções (emotivas) de baixo nível posteriores.
A relação das emoções com os processos sociais advém de factos tais como a necessidade de acção envolvendo mais do que um agente, nomeadamente a cooperação, que necessita ser coordenada de alguma forma, e existindo assim um veículo emotivo entre os agentes, como manifestação social das emoções exteriorizadas, que o são nas expressões faciais, com um espectro comprovadamente universal (Ekman, 1969), ao qual se junta uma parametrização memética regional, ou mesmo os tons de voz.
Para além de visualizar a emoção como uma heurística eu atrevo-me mesmo a coloca-la como um processo de categorização ao mais baixo nível em termos de implementação, e seria assim que a categorização não era apenas uma criação memética do ser humano mas tinha fortes percursores na emoção que tem um suporte grandemente genético. Atrevo-me também a dizer que o par emoção-reacção presente no nível não cognitivo não pode ser considerado um processo meramente não cognitivo vista a aprendizagem adaptativa a que consciência procede sobre estes mecanismos (cf. sistemas simbólicos a modelar pela aprendizagem sistemas sub-simbólicos).
Para além do sentido de fluxo de informação do nível emocional inferior para a consciência, de forma a termos percepção da emoção (o sentimento aderente à emoção que percepcionamos conscientemente), julgo ainda que existem processos opostos, em que a emoção é gerada face a um produto da consciência (pensarmos numa situação passada e ficarmos tristes, nostálgicos, alegres, etc. conforme a memória e o contexto actual – apontando para uma situação cognitiva do processo, prevermos o futuro e sentirmos medo, etc.).
Em termos evolutivos acho interessante as duas seguintes possibilidades, uma é a de as emoções não serem veiculadas para o plano consciente, o que na minha perspectiva iria arredar a cognição da emoção, e a sua contextualização em situações de planeamento, tornando a emoção num simples interrupt e colocando grandemente a capacidade de decisão na genética do indivíduo, com a previsibilidade aí aderente. Por outro lado, não existir uma resposta não consciente face a uma emoção, nesse caso a resposta à emoção e eventualmente ao estímulo que originou a emoção, seria um processo complexo e lento, de inferência, e teria que ser repetido inúmeras vezes quando poderia ser cached através da parametrização de um sistema de reacção não consciente.
Algumas questões que julgo terem permanecido: Será que existem emoções que não experimentamos conscientemente? (ou Será o papel das emoções somente cognitivo ou não?) Será que se se bloquear a comunicação entre os mecanismos emotivos mais básicos com a consciência o ser humano perde o controlo sobre ele mesmo, agindo apenas os níveis inferiores, ou deixa de ser capaz de decidir em tempo útil visto não ter uma heurística?
Relativamente ao artigo [AMYGDALA, PRIMATE – MITECS] julgo que apesar da não inclusão da amígdala na formulação inicial do sistema límbico esta tem um papel que será mesmo o de um centro de processamento emocional, fortemente ligado a outros processos, como é o caso da memória. Desta ligação com a memória advém a ideia das emoções como catalisadores (mesmo chaves) no acesso à memória, facilitando processos de reacção emotiva de baixo nível suportadas por processos inconscientes que fazem uso da memória a longo prazo mas com um rápido acesso.
Naturalmente a emoção está fortemente ligada à sobrevivência e daí que um conjunto de explicações evolutivas para justificar a emoção seja provavelmente facilmente suportável, até mesmo Darwin se debruçou sobre o assunto ao estudar a evolução da expressões emocionais em várias espécies. Ainda sobre as expressões emocionais, pensa-se mesmo que a amígdala tem também um papel importante no reconhecimento destas, e eventualmente na produção das mesmas.
Já no artigo [THALAMUS – MITECS] vim reforçar a ideia de que no ser humano (e de uma forma geral nos mamíferos) a organização cerebral e do sistema nervoso não é simplesmente hierárquica, como módulos uns sobre os outros (o que se passa geralmente nos outros animais), mas sim existe uma interacção forte das camadas que lidam com modelos cognitivos mais desenvolvidos com as camadas inferiores, nos dois sentidos, isto acontece através do feedback nas ligações entre neurónios pertencentes a duas camadas distintas.


Inteligência emocional:
Falou-se também sobre inteligência emocional. Após algumas leituras sobre o tema da psicologia evolucionária a sensibilidade para compreender a noção de inteligência emocional aumenta.
Acho interessante notar a ligação estreita entre a amígdala (comprovadamente ligada com o comportamento emocional [MITECS - AMYGDALA, PRIMATE]) e uma das zonas que se pensa ser responsável pela memória no cérebro. Apesar do que tenho lido continuo ainda a não descrer por completo a capacidade da introspecção e julgo que todos nós já experimentamos que a forma de nos recordarmos de muitas situações e conhecimentos passados é algo de muito emocional (não é possível recordarmo-nos de determinados momentos passados por simples necessidade - "onde estavas tu naquele dia em que aconteceu X?" - a indexação da memória é feito por emoções em muitos casos e essas emoções são é muitas vezes despertadas por um estímulo exterior - um som, uma estética, etc.), mesmo que o seja na perspectiva de uma reacção a uma emoção presente produzida pelo contexto.
Julgo que muita da aprendizagem não é efectuada a fundo, de forma a poder alterar profundamente o nosso pensamento (provavelmente, segundo uma perspectiva conexionista, as ligações sinápticas que suportam as funções com as quais a aprendizagem se prende). Se a aprendizagem for considerada como um estímulo emocional associado a memórias dos conteúdos do que se pretende aprendido penso que o funcionamento conjunto dos mecanismos emocionais e de memória do cérebro explicam a importância da inteligência emocional, de forma a nos permitir aplicar conhecimentos, até pouco praticados, a situações novas do ponto de vista cognitivo mas cujo estímulo emocional é semelhante ao associado com o da aprendizagem. Contudo este tipo de inteligência, apesar de estar mesmo associada com situações na fronteira entre a reacção e a deliberação (permitindo um processamento deliberativo mais cuidado sobre um dado assunto resultante de uma "inferência emocional"), julgo, está bastante preso à falibilidade dos modelos conexionistas de mais baixo nível, podendo originar reacções descabidas se aplicados os seus resultados como reacção sem deliberação (daí achar que funciona melhor como mecanismo de alimentação para um processo de inferência consciente - uma deliberação).


Padrões de comportamento típicos (hard-wired):
No que toca a padrões de comportamento típicos, inatos, não cognitivos, pergunto se estes demonstram que há acção desprovida de emoção ou razão?
Com base no estudo da Etologia [ETHOLOGY – MITECS] verifica-se que apesar de ter existido uma corrente nesse sentido veio a ser provado que grande parte dos animais para além do comportamento inato (aderente ao seu genoma) possui um suporte inato também para a aprendizagem de parametrização de comportamentos. Desde pássaros que necessitam de aprender a cantar (song learning birds) à série de animais que se parametriza socialmente em função do estímulo social (“imprinting”), portanto exterior, nas suas primeiras vivências após a nascença, vêm mostrar que mesmo os animais menos evoluídos são algo muito diferente de um autómato completamente pré-programado.


Psicologia evolucionária:

Alguns autores, como [HOWARD], afirmam que é um movimento originado numa explosão baseada em 20 anos de assimilação do livro “Sociobiology”, E. O. Wilson, 1975. Seja como for foi nesta área que vi virem desembocar uma série de teses (como acontece com Steven Pinker em [PINKER CN], onde li pela primeira vez sobre o assunto com o entusiasmo natural às leituras do autor).
Já na introdução de “The Moral Animal” [WRIGHT] vi seguida uma linha que me fez recordar vagamente um livro que li há alguns anos (“Sombras de Antepassados Esquecidos”, CARL SAGAN & ANN DRUYAN) na forte ligação que se estabelece com as próprias ideias do Darwin, e não só nas consequências da sua investigação. Apresentando dois autores contemporâneos a Darwin que se debruçaram sobre assuntos da sociologia em pontos de vista opostos dá-se um passo para depor a tese clássica da sociologia moderna (Emile Durkheim) que apenas tende a ter em conta os memes (visualizando a mente humana algo como um processador universal socialmente ajustado pela aprendizagem), considerando os traços sociais completamente meméticos, traços estes mesmos que a psicologia evolucionária vem provar são realmente legados genéticos com milhões de anos de evolução, lado a lado com processos como a visão ou a audição (que também contém componentes que a psicologia clássica considerava aprendidos). Verifica-se assim a tendência geral nas ciências cognitivas de encontrar suporte genético para uma série de comportamentos humanos que eram considerados fruto da aprendizagem e um legado puramente social (como tal fruto da computação distribuída e consequente selecção memética que tem vindo a ser executada ao longo da evolução da sociedade). Contudo a psicologia evolucionária não veio depor a ideia de memes nem a importância de mecanismos como a aprendizagem ou a influência do meio, pelo contrário veio em muitos casos abrir caminho para explicações de como funciona o suporte genético por detrás desses mecanismos, a sua origem (de tal forma que trás consigo uma função que veio solucionar um problema de adaptabilidade ou que é um subproduto de uma função que resolve um problema de adaptabilidade enfrentado na evolução humana) e a contextualização dos mesmos no meio em que se inserem e que os despoleta.
Alguns dos resultados desta corrente vêm contrariar algumas afirmações que fiz mais atrás. Apesar de a psicologia evolucionária aceitar e utilizar o modelo computacional de mente não o aplica como um processador universal, nem mesmo no que toca a mecanismos lógicos, aos quais eu me referi como sistemas simbólicos, fortemente ligados com a consciência. Na psicologia evolutiva encontrando inclusive, para uma série de raciocínios lógicos num determinado domínio como as interacções sociais no plano da cooperação (e boicote da mesma), um suporte genético que faz com que os raciocínios lógicos sobre a mesma (no caso encontrar um boicote - alguém que não cumpre as regras da cooperação: dar e receber) sejam muito mais facilmente executados por qualquer pessoa do que os mesmos raciocínios lógicos sobre outro domínio semântico: ver a experiência com as violações de regras if then na parte final do artigo [COSMIDES&TOOBY].
Ao vir reformular a visão clássica do estudo dos comportamentos do ser humano, numa abordagem inicial a psicologia evolucionária debruça-se sobre a questão do que é o comportamento. Verifica-se a sua associação ao movimento, à coordenação de recursos físicos de um animal de forma a atingir um objectivo. Daí fazer parte de um processo: percepção -> cérebro -> movimento -> comportamento. Confirma-se que animais que não se movem não possuem cérebro e alguns possuem cérebro apenas até se fixarem num local e depois o seu cérebro é assimilado como alimento (sea squirt).
Uma perspectiva inicial é a de que comportamentos que aumentem as possibilidades de sobrevivência ir-se-ão sobrepor aos outros comportamentos, contudo existem outras dimensões em que a selecção natural opera. A potencialização das capacidades reprodutivas e o aumento da probabilidade de sobrevivência das crias (por exemplo através dos cuidados paternais no ser humano, que evolutivamente apenas surgiram num passado recente) são factores chave e sem os quais o aumento da capacidade de sobrevivência não tem resultados (visto os genes que a originam não serem transmitidos a uma prole com capacidade de os disseminar).
O meio em que se insere uma espécie coloca-lhe uma série de problemas adaptativos, estes deverão ser temporalmente recorrentes de forma a terem uma influência durante um período suficiente para que o lento processo da selecção natural venha a gerar e permitir a sobreposição de seres que sejam capazes de lidar melhor com esse problema adaptativo (por exemplo a reprodução e a sobrevivência das crias geradas serão problemas adaptativos sempre presentes durante a evolução da nossa espécie). As soluções para estes problemas adaptativos têm por vezes outras aplicações, especialmente quando não são soluções demasiado restritas (se bem que grande parte do curso evolutivo seja o de produzir mecanismos muito específicos para superar problemas adapatativos quase como que desenhados por uma engenharia – gastando o mínimo de recursos para resolver o problema: questões de optimalidade), e sendo assim podem mesmo resolver outros problemas adapativos novos, ou mesmo anteriores, sem que tenha sido esse problema a potênciar o desenvolvimento do mecanismo em questão. Para além de problemas evolutivos muitos destes mecanismos vêm acrescidos de funcionalidades que são um subproduto, por exemplo ao passar a uma postura bípede e erecta o ser humano necessitou de desenvolveu um sentido de equilíbrio muito elaborado e que podemos agora utilizar para praticar desportos radicais, o que certamente não é um problema adaptativo.
A psicologia evolutiva vai contra uma visão da mente com mecanismos lógicos generalistas, demonstrando através da ineficiência destes mecanismos implementados computacionalmente quando lidam com um grande número de permissas a incapacidade para resolver problemas de um domínio específico. É nesta área da psicologia evolutiva que mais questões me surgem e é aqui também que vem grande parte da colisão com o modelo com que tenho estado a lidar anteriormente. A ideia da PE pode parecer pouco natural quando nos debruçamos sobre a miríade de problemas com que o ser humano lida e que não estão relacionados com problemas adaptativos. A minha ideia inicial é que face a esses problemas fosse aplicada a lógica, mesmo que num nível mais inconsciente existissem respostas de comportamento baseadas em mecanismos emocionais que seriam depois confrontados no mecanismo lógicos e ao longo do tempo acertados com base nesses resultados. Penso que a ideia da PE é que isto não acontece e para lidar com essas situações que não foram fonte de pressão evolutiva o ser humano utiliza os mecanismos evolutivos nos quais essas situações se enquadram como um subproduto da pressão evolutiva que os originou. Contudo ao fazer a comparação de um ser humano experiente numa área profissional e alguém que se inicia na mesma a visão que se tem é muitas vezes a de que o primeiro tem uma base de conhecimentos mais alargada e utiliza regras lógicas mais restritas parametrizadas ao longo do tempo. Se assim não for de alguma forma mecanismos específicos, como subprodutos evolucionários, terão que ser despoltados, isto é, é necessário que a mente do indivíduo seja capaz de identificar que está perante uma situação na qual dado mecanismo evolutivo tem a capacidade de o suportar. Esta questão é mais fácil de visualizar face a alguns fenómenos fascinantes fruto da evolução. Naturalmente que o meio onde uma espécie se desenvolve não é constante, existem variações sazonais, existem mesmo contextos sociais distintos nos quais um determinado comportamento não permite a sobrevivência. É assim que o suporte genético de muitos animais é capaz de identificar este contexto e responder perante o mesmo da forma adequada. Um exemplo extremo é o de uma espécie de peixes em que um macho vive com um conjunto de fêmeas, no caso da morte do macho a maior das fêmeas muda de sexo e torna-se o macho do grupo (estamos assim perante um estímulo social – social cue – com uma componente cognitiva de um nível relativamente alto origina um processo de coordenação entre as várias fêmeas – cf. algoritmos de coordenação em sistemas distribuídos – para decidir que se tornará macho). Mesmo as plantas formam folhas com formas distintas conforme o solo que as suporta, isto é, a mesma planta conforme seja plantada em terra ou numa solução aquosa vai ter folhas com uma forma diferente.
A PE indica mesmo que a aprendizagem e a razão são instintos impossíveis de separar do suporte genético que os contextualiza num mecanismo adaptativo (fruto de um problema adaptativo). A questão usualmente levantada na sociologia clássica se determinado comportamento tem uma origem em factores inatos ou numa aprendizagem perde assim o seu sentido visto que sem os factores externos (sejam eles memes ou factores físicos do meio) os mecanismos genéticos não seriam despoletados e sem os mecanismos genéticos não existiria um suporte para a informação oriunda do exterior. Sendo assim a PE considera que a variação entre elementos da espécie humana são quantitativos (ao contrário da genética do comportamento que busca variações genéticas entre indivíduos para explicar as diferenças de comportamentos entre estes) e que o modelo funcional se mantém permitindo um estudo de modelos universais sem se perder em detalhes fruto de pequenas variações genéticas que não representam mecanismos funcionais diferentes.
No campo da emoção no artigo [COSMIDES&TOOBY] considera-se que esta tem um papel coordenador entre os vários mecanismos (módulos), que sendo assim virá substituir em certas situações o papel coordenador de um único fluxo de execução presente na consciência. Aplica-se especialmente face a situações recorrentes (o que vem reforçar a ideia que tinha já exposto anteriormente e que me leva a ver a emoção como uma heurística que poupa esforço computacional consciente). Contudo existe no artigo também a ideia de que a emoção está talhada de forma a reagir pela melhor forma face a situações críticas com que lida pela primeira vez, eliminando de certa forma o papel da consciência deste plano.
Face a questões como a adaptabilidade de tecido nervoso a novos processos no contexto do ENS (ver tópico respectivo) ou a adaptação de uma zona cerebral, responsável por exemplo pela visão num cego, a fazer parte de novos processos úteis como a audição, a psicologia evolucionária vem dar uma visão que está longe da simplicidade da visão de computação universal (se bem que essa possa ser a visão neurológica ao nível dos neurónios e a sua parametrização) que deixaria por explicar o processo de aprendizagem desses neurónios para efectuar as novas tarefas, e passa a visualizar essa adaptabilidade como produto de um mecanismo fruto do processo evolutivo, e portanto prevendo que se tenha já enfrentado uma situação semelhante como pressão evolutiva ou seja este comportamento então o subproduto de um mecanismos fruto de outra pressão presente.
Seja como for julgo que a psicologia evolucionária é uma perspectiva com grande vantagem para uma série de processos mas que vem como um choque quando aplicada a uma série de campos, se foi fruto de 20 anos de assimilação do “Sociobiology” julgo que terá ainda muitos mais anos pela frente até atingir uma maturação, isto especialmente nos segmentos em que adopta uma abordagem down-to-top e onde muitas vezes é difícil articular os processos de baixo nível com processos mais complexos.
Quando é adoptada na verificação e previsão da presença de mecanismos demonstra uma vantagem e dá explicações bastante lúcidas para uma série de processos. Visões na linha de: Se o acaso tivesse gerado um ser com determinado mecanismo será que ele iria ter vantagens sobre os outros? Então se o acaso gerou esse indivíduo ele provavelmente sobrepôs os seus genes de forma a chegarem até hoje; vêm alicerçar explicações e a compreensão de uma série de mecanismos cognitivos.


Razão e deliberação como ferramentas de previsão do futuro e adaptação para o mesmo, em oposição à emoção como reacção ao cenário instantâneo:

Numa abordagem inicial pode parecer natural concluir que a emoção é algo de mais primário (o que julgo ser verdade visto o caminho de evolução da vida) e simultaneamente algo menos poderoso, mais limitado, do que a razão. Ora julgo que é precisamente esta conclusão que é criticada por aquela que é talvez a figura mais mediática de ciência do século XX:

"The intuitive mind is a sacred gift and the rational mind is a faithful servant. We have created a society that honors the servant and has forgotten the gift." Albert Einstein

Contudo ao prever o futuro é-nos possível reagir emotivamente em relação a ele, dou como exemplo a ansiedade (utilizando a dádiva sagrada sobre fruto do processamento do servo fiel). Acontece quando sentimos que é impossível não reagir de uma forma emotiva ou até mesmo inconsciente dados determinados estímulos, temos deste mecanismo de sobreposição da emoção à razão e controlo da razão em inúmeros exemplos nos mecanismos de defesa psicológica, como por exemplo a negação - estudada inicialmente por Sigmund Freud (1856-1939).
A emoção é assim não só utilizada para lidar com o presente mas lida também com a abstracção que é efectuada pela razão ao prever uma situação futura e analisar vários cenários possíveis. Desta forma se visualizarmos a razão e emoção como abstracções num paralelo com a computação julgo não podermos observar que a emoção faz parte de uma camada primitiva que é utilizada pelo nível acima, a razão, pela parte consciente do ser (o utilizador na computação). Parece-me que a mente humana neste aspecto se compõe com uma maior versatilidade, sendo a emoção tanto capaz de actuar sobre o modelo percepcionado da realidade imediata como sobre um conjunto de abstracções distintas relativas a um futuro distante. Sendo que esta conclusão não se me apresenta como uma surpresa visto o que acontece com outros mecanismos mais primitivos como o ANS e a sua relação com a mente sob uma forma não puramente de camada superior camada inferior mas sim de elementos de computação comunicantes e cooperantes.
Aderente à essência da emoção está a rapidez com que esta nos dota de informação capaz de permitir uma acção face ao estímulo de determinada situação. Sendo assim um dos principais valores da emoção e até de outras reacções mais primárias é a rapidez com que actuam sobre a realidade, em situações em que não existe tempo para a actuação da razão ou mesmo de uma abordagem consciente de maior generalidade e espectro mais alargado (logo fruto da aplicação de algoritmos de maior complexidade computacional). Podemos aqui estabelecer um paralelo com o mundo computacional das redes neuronais (do lado da emoção) e da inferência lógica (do lado da razão).

Evidências como a presente em [ART 1] apontam para uma universalidade das capacidades cerebrais, zonas do cérebro responsáveis por uma dada função adaptam-se para efectuar outra distinta em determinados casos (como os provocados na experiência referida no artigo ou como no cérebro de pessoas que perderam por exemplo um braço e cuja zona responsável no cérebro passa a estar dedicada a outras funções, ref.: Documentário de uma das aulas teóricas). Contudo esta revelação de universalidade é localizada num sistema muito específico sobre o qual terá que existir já conhecimento (seja ele genético, fruto da aprendizagem e relacionado com o suporte genético ou fruto de influência de memes) ou ser efectuada nova aprendizagem. Julgo que é natural que um tecido de protoplasma (acho que me posso referir assim a um conjunto de neurónios) possa reajustar as suas propriedades de forma a executar outra função desde que exista outro protoplasma capaz de gerir esta alteração e proceder ao ensinamento necessário.



Uma tentativa de aplicação de conhecimento sobre as bases do modelo psico-visual e as fases iniciais da aprendizagem:

O mito de que as crianças com óculos são geralmente mais inteligentes

Alguém que sofra de miopia tem uma visão desfocada do mundo, tanto mais quanto maior for a sua deficiência. Sem uma correcção através de lentes o modelo psicovisual dessa pessoa tem por base informação muito menos poderosa do que uma pessoa com visão normal. Por exemplo a identificação da linha que delimita um objecto é muito mais difícil e como tal a identificação do objecto dificultada tendo este características que abrangem um espectro de objectos mais largo. Sendo assim a criança que cresce durante algum tempo sem correcção para este problema, se tiver as mesmas demandas do mundo que a rodeia ("dá-me aquela cubo preto que está em cima da mesa", etc.) para lhes conseguir responder com a mesma facilidade que uma criança normal terá que fazer um processamento das imagens muito mais elaborado (imagine-se a quantidade de heurísticas que seriam necessárias para processar as imagens de uma câmara digital com uma definição muito menor do que outra). Tendo presente a visão do modelo conexionista e a visão da psicologia infantil mais recente julgo que será possível concluir que estas circunstâncias, até determinada idade a partir da qual a acuidade visual se torna essencial para a aprendizagem da leitura, funcionam como catalisador da formação de uma mente mais capaz de lidar com situações de privação de informação e capaz de tirar conclusões com mais facilidade dado um número restrito de premissas. Contudo julgo também que existirão efeitos psicológicos colaterais tais como um baixo nível de autoconfiança vista muitas vezes a necessidade dos outros para realizar tarefas para as quais o seu modelo visual ainda não possui uma heurística satisfatória (naturalmente que nem sempre a criança conseguiria efectuar as tarefas que lhe eram pedidas e daí poderia ter estímulos negativos na sua aprendizagem). Finalmente julgo ainda este raciocínio estar extremamente limitado a partir de certo ponto em que a informação presente na criança míope é mesmo insuficiente para tirar qualquer conclusão (tal como acontece com o reconhecimento de letras e outros símbolos).



Bibliografia:

[ANS] Neuroscience for Kids - Autonomic Nervous System
http://faculty.washington.edu/chudler/auto.html

[ENS] A brain in the gut
http://whyfiles.org/026fear/physio1.html
[ENS2]
Aprofundamento do assunto no artigo "The Enteric Nervous System A Second Brain":
http://www.hosppract.com/issues/1999/07/gershon.htm

[Encarta BRAIN]
"Brain," Microsoft® Encarta® Online Encyclopedia 2002
http://encarta.msn.com © 1997-2002 Microsoft Corporation. All Rights Reserved.

[MITECS]
"The MIT Encyclopedia of the Cognitive Sciences"
Robert A. Wilson, Frank C. Keil
MIT Press, 1999

[PINKER]
"How the Mind Works", Online Excerpt from the Introduction:
http://www.wwnorton.com/catalog/fall98/pinker.htm
Steven Pinker, 1997 W.W. Norton & Company

[PINKER CN]
"How the Mind Works", The Cognitive Niche sub-chapter
Steven Pinker, 1997 W.W. Norton & Company

[HOWARD]
"Owner's Manual for the Brain: Everyday Applications from Mind-Brain Research (Second Edition)"
Pierce J. Howard, Bard Press 2000

[WRIGHT]
"The Moral Animal : Why We Are the Way We Are : The New Science of Evolutionary Psychology"
Robert Wright, Vintage Books 1995

[COSMIDES&TOOBY]
http://www.psych.ucsb.edu/research/cep/primer.html
“Evolutionary Psychology: A Primer”
Leda Cosmides & John Tooby, University of California, 1997

[ART 1]
Scientists rewire visual function of brain.(Brief Article)
http://www.findarticles.com/cf_0/m0VEY/12_25/62879679/p1/article.jhtml


Notas:

(1) Eventualmente poderá ser fruto de uma modelação simbólica sobre um sistema sub-simbólico de reacção emocional – ver tópico do desenvolvimento: “O Cérebro” sobre a emoção e a parametrização da mesma pela razão.