Saturday, June 22, 2002

Notas sobre a 3ª Aula de Computação e Ciências Cognitivas
Tema: "Razão e Emoção, Deliberação e Reacção"


Pretendo neste texto apresentar as principais ideias que consegui captar no debate da aula referida, isto sob o tópico "Sumário", após o qual pretendo então desenvolver alguns pontos. Esse desenvolvimento procederá através da minha opinião e conhecimentos prévios mas também pretendo abrir um leque de fontes bibliográficas diversas como as indicadas pelo Professor, descobertas na Internet (páginas pessoais sobre autores da área, citações online, artigos, opiniões sobre teses, livros, etc.) e também exploradas entre fontes já conhecidas: revistas (Scientific American), literatura de ficção científica, (ultimamente tenho encontrado inúmeras relações de muito material que leio, experiências por que passo, com as abordagens da cadeira e desenvolvimento retirado da mesma, apesar de tudo toda esta informação ainda se encontra de certa forma desconexa... espero que escrever estes textos me ajudem a organizá-la).


I - Sumário:

Um dos primeiros pontos focados foi o de que muitos animais têm padrões de comportamento típicos. Podendo este fenómeno advir da realização dos mesmos comportamentos de uma forma consciente, existindo apenas a repetição de um raciocínio, existem estudos que demonstram que estes comportamentos não estão de forma nenhuma do lado da razão nem da consciência, sendo até que muitos animais consideram-se desprovidos destes mecanismos na sua totalidade ou apenas de algumas camadas superiores que são exclusivas do Homem.

Será então que estes animais são simples executores de código genético (onde estão codificados os padrões de comportamento)? Penso que a questão deixada em suspenso será mesmo se existe acção sem emoção ou razão.

O foco moveu-se assim para a emoção e o seu efeito sobre a razão. Como seres humanos, através quer de introspecção como de observação de comportamentos exteriores, já lidamos alguma vez com situações em que a emoção se sobrepõe ao sentido da razão e o resultado é uma acção movida pelo ímpeto oriundo de uma emoção. Julgo que tanto são observáveis casos em que a emoção é o único agente de um comportamento como casos em que a razão entra em competição (na linha de pensamento) com a emoção, sendo que muitas vezes a segunda é mais "forte" em determinado tipo de pessoas e situações. Deste combate figurado penso que advém um dos pontos discutidos na aula que é o de que a razão entra em acção no pensamento muitas vezes em que a emoção gera resultados incongruentes, portanto é lenta no seu processo de passagem do comportamento gerado para a acção, e logo dá "tempo" para que a razão produza também resultados. É desta forma que se pode ver a razão como solucionadora de questões de incongruência ("colisões"/indecisões) na emoção. Penso que, por vezes, quando a acção gerada por uma emoção (aqui como reacção) leva mais tempo a ser executada, a razão acaba por interferir mesmo sem existir uma situação de colisão com a reacção gerada pela emoção ("Apetece-me tanto este prato, mas não quero gastar o dinheiro, está muito caro..." é uma frase bastante ilustrativa desta situação).

Afastando-nos um pouco destas questões, de uma índole mais do foro da psicologia comportamental (behaviourism) ou mesmo da filosofia, o debate enveredou por uma exploração da natureza do cérebro. A ideia é que sendo este composto por camadas cada uma delas corresponderia a um estado da evolução do reino animal (o paleo-cortéx corresponderia ao cérebro dos répteis, etc.). Sendo assim para além de uma ligação directa entre as capacidades mentais de cada estado evolutivo das espécies que nos precederam na árvore evolutiva existe também uma sobreposição destas camadas em algo que nos leva ao paralelo com a relação do Software (cf. camadas mais recentes do cérebro) com o Hardware (cf. as camadas mais antigas). Contudo estas novas camadas têm um suporte físico, só por si bastante maior do que o das camadas mais antigas, e, sendo assim, as camadas mais antigas não são o suporte físico das mais recentes, ao invés oferecem as suas capacidades e funcionalidade às novas camadas, daqui uma ideia de um sistema de computação distribuído e modular (pelo menos fisicamente). Sendo que no ser humano existe um modelo simbólico associado à visão este não estará no seu todo presente nos répteis (nem sequer está nas crianças recém nascidas visto que parte dele é aprendido) e como tal julgo que a visão num nível mais básico, sub-simbólico, será uma funcionalidade do paleo-cortéx que disponibiliza os resultados do seu processamento às camadas superiores, tal como num modelo de camadas frequentemente encontrado na informática (cf. o modelo OSI para protocolos de comunicação em redes de computadores), em que a informação processada nos níveis inferiores é passada aos níveis superiores onde tem um significado sintáctico o que no nível abaixo tinha significado semântico, compondo-se assim uma nova semântica sobre a semântica do nível inferior.

Outros tópicos mencionados no debate foram a inteligência emocional, a psicologia evolucionária, o papel da hipófise e da epífise e a discussão sobre algumas das funções do córtex cerebral (planeamento, modelo visual da realidade), relacionando-se estas funções com as capacidades perdidas verificadas em doentes com vários tipos de lesões cerebrais conforme nos tinha sido exposto num documentário visualizado. O papel do cerebelo na coordenação dos movimentos, a sua autonomia mas contudo a sua ligação com a consciência e disponibilização de informação processada a outros processos do cérebro. Talvez parecendo um pouco fora do tema falou-se no papel de algumas hormonas produzidas pelo organismo de forma a diminuir a dor em situações de danos físicos graves ou as endomorfinas produzidas durante a cópula e com um efeito calmante (diminuem a dor e afastam o medo), contudo este tipo de mecanismos demonstra de certa forma a natureza química das reacções humanas. Julgo que vimos também algumas situações em que o instinto e a emoção são manipulados pela razão (por vezes tomo notas de pensamentos meus e não me recordo se foram veiculados no debate ou se apenas os quis manter para um desenvolvimento posterior). Alguns destes tópicos são fruto de algum desenvolvimento na secção respectiva.

Já em jeito de terminação voltamos à questão de ligação entre a emoção e a genética discutindo o facto de que se concluiu de estudos das expressões faciais de vários membros da espécie humana, largamente separados geograficamente e muitos culturalmente isolados da civilização (cf. o tipo de estudo efectuado para estabelecer se o ideal de mulher era partilhado, documentário visualizado numa das aulas), que muitas dessas expressões (aqui vistas na perspectiva de exteriorização das emoções) eram comuns a toda a espécie humana (um conjunto de expressões básicas às quais se acrescentava uma série de expressões de emoção dependentes do meio cultural). Este facto como que aponta para uma relação grande das emoções com os mecanismos humanos originados na genética, sendo que a estes a educação (aprendizagem) e mesmo o raciocínio interior vêm acrescentar e por vezes mesmo alterar (em alguns casos com consequências muito negativas - como por efeito de doenças mentais). Espero contudo que desta minha última frase não se depreenda erradamente que defendo a "pureza" da emoção em detrimento do seu alargamento através das capacidades cognitivas da consciência.



II - Desenvolvimento:


Autonomic Nervous System (ANS)

Localiza-se fora do cérebro, no sistema nervoso periférico, e é responsável por funções automáticas essenciais para a sobrevivência. Portanto as reacções por ele geradas (como o aumento da tensão arterial) não fazem parte das nossas acções conscientes. Este sistema pode contudo ser controlado pela consciência (existem indivíduos que com muito treino e capacidade de controlo são capazes de alterar o seu ritmo cardíaco ou a sua pressão sanguínea).
Estaremos assim perante um agente essencial para a sobrevivência do nosso ser que pretende ser altamente especializado, separado da capacidade de processamento do cérebro mas comunicante e interactuante com este (cf. sistema informático distribuído). O carácter crucial e especializado deste sistema aponta para as fases iniciais do desenvolvimento animal, parece assim que o modelo das camadas cerebrais (e neste caso estendido a todo o sistema nervoso) se aplica.[ANS]

Aprofundando um pouco a questão (após alguma conclusões tiradas numa conversa informal em que tentei apresentar resultados deste raciocínio) é possível verificar que os estímulos a que respondem as componentes deste sistema (o Sympathetic NS, em casos como o de uma ameaça de um urso, ou o Parasympathetic NS em situação de relaxe, após uma refeição por exemplo) advém de uma percepção que ocorre no sistema simbólico/de inferência(1) do cérebro (por exemplo o reconhecimento do urso à distância). Como tal este sistema não poderá ser considerado autónomo (mesmo o nome Autonomic apela apenas a um reflexo automático), dependendo da interpretação da percepção da realidade efectuada pelo cérebro é apenas um organismo que reage segundo um dado padrão, automaticamente (cf. os padrões de comportamento típicos nos animais, de origem genética; julgo que no caso do ANS será algo mais elementar ainda, se bem que também é passível de controlo consciente).
Julgo assim que o ser humano com a sua consciência (e ego a condizer) actua muitas vezes nas mesmas áreas que em outros animais são apenas controladas a um nível de padrões de comportamento inerentes à espécie, isto visto estas áreas de acção serem passíveis de uma maior, mais fácil e intuitiva intervenção consciente do que acções como as do ANS.

Já o Enteric Nervous Sistem, responsável pela monitoração e controlo do aparelho gastrointestinal, aparenta outra dimensão, não só pelo seu número superior de neurónios, mas especialmente pelas capacidades de aprendizagem que nele foram identificadas [ENS].
É na sua essência também um sistema de comportamento reactivo ("reflex behavior" [ENS2]), reagindo com a paragem da digestão em situações de perigo discernidas pelo cérebro (que controla o ENS até certo ponto), mas também reagindo com base na percepção que tem do sistema que gere (sendo mesmo possível continuar a funcionar na ausência do sistema nervoso central, resultado das primeiras experiências no campo levadas a cabo por William M. Bayliss e Ernest H).
A capacidade de aprendizagem do ENS reflecte-se no tratamento de em doentes que não possuem células nervosas no tracto final do recto, aos quais se removia a porção defeituosa do cólon, para o ligar à parte adjacente ao ânus, sendo que passados alguns meses (cerca de 18) as funcionalidade nunca antes efectuadas pelas células substitutas permitiam já o pleno funcionamento do sistema no doente, permitindo uma defecação perfeita.
Daqui podemos retirar conclusões relativamente ao tema do debate, aliás, é um dos objectivos do estudo do ENS a possibilidade de este, por ser mais simples que o cérebro, apontar na direcção em algumas áreas do estudo do cérebro humano. Se no ENS encontramos a capacidade de aprendizagem julgo que é inegável que a capacidade deliberação não lhe pertence. O ENS é apenas capaz de percepcionar as condições do seu meio, agir segundo uma espécie de pré-programas que podem ser produzidos pelo estimulo (nomeadamente do cérebro, por exemplo quando uma criança aprende a utilizar a sanita) através de um processo de aprendizagem. Fazendo um paralelo com o cérebro, será que aquilo a que chamamos consciência e que julgamos deliberar por nós não é mais do que um ENS controlado por estímulos do mundo exterior? Onde estaria então neste paralelo a entidade equivalente ao cérebro que utilizamos para estimular e ensinar o ENS?


Ao começar a escrever sobre o ANS e o ENS, surgiu-me a seguinte questão:
"Será que faz sentido uma abordagem do sistema nervoso em que se pretende fazer um paralelo com um sistema distribuído (abrangendo todo o corpo)? Será que existe distribuição de alguma forma de "processamento" cognitivo, mesmo que não sob a forma consciente?"

Uma vez que o ENS e o ANS lidam com estímulos por detrás dos quais existe um modelo cognitivo no ser humano poder-se-ia pensar que estes sistemas processavam informação de uma forma cognitiva, mas face ao que li sobre o conexionismo e a sua associação com sistemas sub-simbólicos, julgo que o que se passa é que o cérebro lida com os modelos simbólicos, ensinando o seu sistema sub-simbólico, que no caso está fisicamente localizado fora do cérebro, de forma a que o sistema sub-simbólico possa actuar de uma forma quase imediata enquanto que o nosso sistema simbólico só irá produzir informação útil depois, justificando situações em que agimos sem saber como e só depois obtermos uma justificação simbólica com base em inferência sobre o nosso conhecimento (estou a ir um pouco contra uma ideia que vi veiculada num documentário sobre a Consciência de que as explicações eram um artifício da mente para nos iludir de que tínhamos agido racionalmente, e nem sequer tinham nada a ver com a justificação da acção realizada). Naturalmente que em situações novas e sem um mecanismo de inferência simbólico o ser humano iria estar dependente de reacções dos mecanismos sub-simbólicos que não estavam ensinados para lidar com essas situações e como tal seriam provavelmente desadequadas.
Uma criança não foge de um urso antes de aprender o que este é, mas poderá fugir de uma "fonte de sons estranhos", quero assim dizer que até certo ponto existe "conhecimento" que se transmite através dos genes - como nas espécies de animais em que não existe aprendizagem, já no ser humano o "conhecimento" transmitido através dos genes será mais diminuto face à grande quantidade de conhecimento que necessita de ser aprendida, daí poder-se julgar uma criança humana mais inocente em termos cognitivos do que crias de outros animais. Contudo após a cimentação dos seus mecanismos de inferência e dado que tenha uma boa base de conhecimentos o ser humano é capaz de superar qualquer outra espécie a lidar com situações novas: um grande ponto a favor dos sistemas simbólicos contra os sub-simbólicos. Vejo assim traçado um quadro em que o sistema simbólico em que temos influencia conscientemente, controla e modela os sistemas sub-simbólicos que são autónomos em termos de reacção, tomada de decisão, etc.



O Cérebro:

A necessidade de investigar um pouco sobre o sistema nervoso periférico surgiu quando lia o artigo da Encarta sobre o cérebro [Encarta BRAIN]. Tinha antes lido sobre o ENS que existia um “cérebro na barriga” em alguma revista sensacionalista e não quis limitar-me dessa forma. Após ter compreendido até certo ponto a autonomia destas componentes do sistema nervoso, a sua independência da nossa consciência e os traços da interacção com a mesma, já é com mais facilidade que vejo o enquadramento da consciência sobre camadas de funcionalidades cerebrais que não lhes são completamente acessíveis, que são autonomamente inteligentes e funcionam como módulos de processamento de informação especializados e parametrizados por uma aprendizagem que parte da consciência e da nossa capacidade de efectuar pensamento de inferência, entre outras formas.
No que toca ao cérebro a sua complexidade pode ser desmotivadora quando se lê algo como [Encarta BRAIN] e se tenta confrontar com o modelo da teoria computacional da mente e até mesmo com as redes neuronais. Contudo é maravilhoso quando através das neurisciências obtemos informações que correlacionam profundamente o suporte físico do cérebro, as ligações e zonas de actividade, com o objecto do raciocínio e observarmos os dados que se obtêm também ao nível consciente do paciente alvo da experimentação. Controlando-se a fonte exterior de estímulos ao cérebro, portanto parte do input, pode-se observar o resultado do processamento em alto nível presente na mente da pessoa que é objecto do estudo enquanto se mapeiam em tempo real os fenómenos físicos decorrentes através de técnicas como o fMRI.
Na anatomia do cérebro existem mesmo estruturas que são evolutivamente mais primitivas (de origem reptiliana) e que para além de funcionarem como processadores paralelos de informação sensorial, disponibilizando o resultado deste processamento às camadas superiores (nomeadamente à consciência com o seu fluxo de execução em série), funcionam também com processamento reactivo a determinados estímulos menos complexos. Nomeadamente é de referir o papel do brain stem, na base do córtex, fazendo a ligação com a medula espinal (onde se situa o ANS), onde para além de existirem estruturas dedicadas a este processamento de informação a baixo nível existe também a formação reticular que é responsável pela filtragem da informação que é enviada às camadas superiores, situadas no córtex. É assim que se pode concluir que a reacção tem um campo de operação relativamente limitado em termos da complexidade das situações com que pode lidar, por exemplo não conseguimos reagir sem recurso à razão ao estímulo de um desenho de “Onde está Waldo?” só porque este veste uma camisola de riscas vermelha e existem outras camisolas com riscas e outras vermelhas, enquanto conseguimos reagir sem recurso à razão a um estímulo de um conjunto de objectos com riscas onde existe apenas um sem riscas que se destaca naturalmente (distinção esta entre objectos com e sem riscas que é feita ao nível semântico do processamento visual básico e inconsciente). Contudo a filtragem da informação que atinge as camadas superiores torna o campo de acção da razão também limitado, atribuindo-lhe apenas um nível de abstracção médio ou elevado: não podemos raciocinar sobre o padrões de ondas por detrás do som de uma letra sem fazer recurso a instrumentos sensoriais não humanos, nem nunca faria sentido pedir a uma pessoa para se levantar quando ouvisse uma onda sonora com uma determinada componente, embora esta informação esteja a ser processada nas camadas inferiores, indicando portanto no sentido da modularidade da mente humana e ocultação da informação entre os vários módulos.
Se contudo considerarmos apenas dois tipos de processamento, a reacção aos níveis mais básicos do processamento de informação sensorial e um nível racional superior não estamos certamente a capturar a grande versatilidade da mente humana e os vários planos de processamento envolvidos na acção/reacção, nomeadamente estamos até a ignorar o papel da emoção (que certamente está mais próxima da cognição e razão humana do que a as reacções de baixo nível, sem contudo ser algo de racional e lógico na sua essência).
Nos artigos [EMOTIONS; EMOTION AND THE ANIMAL BRAIN; EMOTION AND THE HUMAN BRAIN – MITECS] confirmei algumas orientações anteriores no que diz respeito às emoções: a emoção num nível intermédio de cognição, o efeito posterior da cognição com possibilidade de alterar o decurso de uma acção e efectuar alterações graduais sobre a reacção associada à emoção causadora dentro de um dado contexto – aprendizagem, de forma a lidar com novas situações, tal que numa situação seguinte a reacção a mais baixo nível tenha sido manipulada pela razão através da aprendizagem em situações anteriores. Ainda o papel representativo da consciência mesmo quando existe uma emoção envolvida, a relação da emoção com o acesso a memórias e a visão da emoção como uma heurística (tanto no planeamento de acções, como na pesquisa na memória de médio e longo prazo).
Naturalmente que cada ponto acima indicado tem um certo desenvolvimento próprio e contexto mais específico. Por exemplo em [EMOTION AND THE ANIMAL BRAIN – MITECS] a emoção (no caso o medo) está presente em vários níveis de complexidade e em localizações cerebrais respectivas, grandemente associadas à amígdala (que tanto tem ligações neuronais às fontes da percepção, às zonas do córtex com capacidades cognitivas e conscientes e ainda ao brain stem com capacidade de execução de acções, daí a rapidez de reacção possível quando num processo de reacção emotiva de baixo nível e inconsciente). Os níveis inferiores serão naturalmente os evolutivamente mais arcaicos, têm um suporte genético mas julgo que existe um mecanismo de feedback da consciência (razão) que vai parametrizando estes mecanismos conforme as decisões que são tomadas posteriormente nos níveis superiores. Julgo que mesmo nos casos em que os níveis inferiores produzem uma acção a emoção segue o seu caminho para a consciência de forma a que este fluxo de execução verifique a correcção da acção tomada (cf. interrupt do hardware num programa de computador), penso que é daqui que surge a tese de que as emoções no plano consciente eram um fenómeno passivo posterior à reacção, William James (1884). Julgo assim que existem, nos seres humanos (e provavelmente noutros primatas que controlam conscientemente, até certo ponto, as reacções face a uma emoção), dois tipos de reacção às emoções, uma de rápida acção, de baixo nível e inconsciente e outra consciente, posterior e cujos efeitos se verificam em reacções (emotivas) de baixo nível posteriores.
A relação das emoções com os processos sociais advém de factos tais como a necessidade de acção envolvendo mais do que um agente, nomeadamente a cooperação, que necessita ser coordenada de alguma forma, e existindo assim um veículo emotivo entre os agentes, como manifestação social das emoções exteriorizadas, que o são nas expressões faciais, com um espectro comprovadamente universal (Ekman, 1969), ao qual se junta uma parametrização memética regional, ou mesmo os tons de voz.
Para além de visualizar a emoção como uma heurística eu atrevo-me mesmo a coloca-la como um processo de categorização ao mais baixo nível em termos de implementação, e seria assim que a categorização não era apenas uma criação memética do ser humano mas tinha fortes percursores na emoção que tem um suporte grandemente genético. Atrevo-me também a dizer que o par emoção-reacção presente no nível não cognitivo não pode ser considerado um processo meramente não cognitivo vista a aprendizagem adaptativa a que consciência procede sobre estes mecanismos (cf. sistemas simbólicos a modelar pela aprendizagem sistemas sub-simbólicos).
Para além do sentido de fluxo de informação do nível emocional inferior para a consciência, de forma a termos percepção da emoção (o sentimento aderente à emoção que percepcionamos conscientemente), julgo ainda que existem processos opostos, em que a emoção é gerada face a um produto da consciência (pensarmos numa situação passada e ficarmos tristes, nostálgicos, alegres, etc. conforme a memória e o contexto actual – apontando para uma situação cognitiva do processo, prevermos o futuro e sentirmos medo, etc.).
Em termos evolutivos acho interessante as duas seguintes possibilidades, uma é a de as emoções não serem veiculadas para o plano consciente, o que na minha perspectiva iria arredar a cognição da emoção, e a sua contextualização em situações de planeamento, tornando a emoção num simples interrupt e colocando grandemente a capacidade de decisão na genética do indivíduo, com a previsibilidade aí aderente. Por outro lado, não existir uma resposta não consciente face a uma emoção, nesse caso a resposta à emoção e eventualmente ao estímulo que originou a emoção, seria um processo complexo e lento, de inferência, e teria que ser repetido inúmeras vezes quando poderia ser cached através da parametrização de um sistema de reacção não consciente.
Algumas questões que julgo terem permanecido: Será que existem emoções que não experimentamos conscientemente? (ou Será o papel das emoções somente cognitivo ou não?) Será que se se bloquear a comunicação entre os mecanismos emotivos mais básicos com a consciência o ser humano perde o controlo sobre ele mesmo, agindo apenas os níveis inferiores, ou deixa de ser capaz de decidir em tempo útil visto não ter uma heurística?
Relativamente ao artigo [AMYGDALA, PRIMATE – MITECS] julgo que apesar da não inclusão da amígdala na formulação inicial do sistema límbico esta tem um papel que será mesmo o de um centro de processamento emocional, fortemente ligado a outros processos, como é o caso da memória. Desta ligação com a memória advém a ideia das emoções como catalisadores (mesmo chaves) no acesso à memória, facilitando processos de reacção emotiva de baixo nível suportadas por processos inconscientes que fazem uso da memória a longo prazo mas com um rápido acesso.
Naturalmente a emoção está fortemente ligada à sobrevivência e daí que um conjunto de explicações evolutivas para justificar a emoção seja provavelmente facilmente suportável, até mesmo Darwin se debruçou sobre o assunto ao estudar a evolução da expressões emocionais em várias espécies. Ainda sobre as expressões emocionais, pensa-se mesmo que a amígdala tem também um papel importante no reconhecimento destas, e eventualmente na produção das mesmas.
Já no artigo [THALAMUS – MITECS] vim reforçar a ideia de que no ser humano (e de uma forma geral nos mamíferos) a organização cerebral e do sistema nervoso não é simplesmente hierárquica, como módulos uns sobre os outros (o que se passa geralmente nos outros animais), mas sim existe uma interacção forte das camadas que lidam com modelos cognitivos mais desenvolvidos com as camadas inferiores, nos dois sentidos, isto acontece através do feedback nas ligações entre neurónios pertencentes a duas camadas distintas.


Inteligência emocional:
Falou-se também sobre inteligência emocional. Após algumas leituras sobre o tema da psicologia evolucionária a sensibilidade para compreender a noção de inteligência emocional aumenta.
Acho interessante notar a ligação estreita entre a amígdala (comprovadamente ligada com o comportamento emocional [MITECS - AMYGDALA, PRIMATE]) e uma das zonas que se pensa ser responsável pela memória no cérebro. Apesar do que tenho lido continuo ainda a não descrer por completo a capacidade da introspecção e julgo que todos nós já experimentamos que a forma de nos recordarmos de muitas situações e conhecimentos passados é algo de muito emocional (não é possível recordarmo-nos de determinados momentos passados por simples necessidade - "onde estavas tu naquele dia em que aconteceu X?" - a indexação da memória é feito por emoções em muitos casos e essas emoções são é muitas vezes despertadas por um estímulo exterior - um som, uma estética, etc.), mesmo que o seja na perspectiva de uma reacção a uma emoção presente produzida pelo contexto.
Julgo que muita da aprendizagem não é efectuada a fundo, de forma a poder alterar profundamente o nosso pensamento (provavelmente, segundo uma perspectiva conexionista, as ligações sinápticas que suportam as funções com as quais a aprendizagem se prende). Se a aprendizagem for considerada como um estímulo emocional associado a memórias dos conteúdos do que se pretende aprendido penso que o funcionamento conjunto dos mecanismos emocionais e de memória do cérebro explicam a importância da inteligência emocional, de forma a nos permitir aplicar conhecimentos, até pouco praticados, a situações novas do ponto de vista cognitivo mas cujo estímulo emocional é semelhante ao associado com o da aprendizagem. Contudo este tipo de inteligência, apesar de estar mesmo associada com situações na fronteira entre a reacção e a deliberação (permitindo um processamento deliberativo mais cuidado sobre um dado assunto resultante de uma "inferência emocional"), julgo, está bastante preso à falibilidade dos modelos conexionistas de mais baixo nível, podendo originar reacções descabidas se aplicados os seus resultados como reacção sem deliberação (daí achar que funciona melhor como mecanismo de alimentação para um processo de inferência consciente - uma deliberação).


Padrões de comportamento típicos (hard-wired):
No que toca a padrões de comportamento típicos, inatos, não cognitivos, pergunto se estes demonstram que há acção desprovida de emoção ou razão?
Com base no estudo da Etologia [ETHOLOGY – MITECS] verifica-se que apesar de ter existido uma corrente nesse sentido veio a ser provado que grande parte dos animais para além do comportamento inato (aderente ao seu genoma) possui um suporte inato também para a aprendizagem de parametrização de comportamentos. Desde pássaros que necessitam de aprender a cantar (song learning birds) à série de animais que se parametriza socialmente em função do estímulo social (“imprinting”), portanto exterior, nas suas primeiras vivências após a nascença, vêm mostrar que mesmo os animais menos evoluídos são algo muito diferente de um autómato completamente pré-programado.


Psicologia evolucionária:

Alguns autores, como [HOWARD], afirmam que é um movimento originado numa explosão baseada em 20 anos de assimilação do livro “Sociobiology”, E. O. Wilson, 1975. Seja como for foi nesta área que vi virem desembocar uma série de teses (como acontece com Steven Pinker em [PINKER CN], onde li pela primeira vez sobre o assunto com o entusiasmo natural às leituras do autor).
Já na introdução de “The Moral Animal” [WRIGHT] vi seguida uma linha que me fez recordar vagamente um livro que li há alguns anos (“Sombras de Antepassados Esquecidos”, CARL SAGAN & ANN DRUYAN) na forte ligação que se estabelece com as próprias ideias do Darwin, e não só nas consequências da sua investigação. Apresentando dois autores contemporâneos a Darwin que se debruçaram sobre assuntos da sociologia em pontos de vista opostos dá-se um passo para depor a tese clássica da sociologia moderna (Emile Durkheim) que apenas tende a ter em conta os memes (visualizando a mente humana algo como um processador universal socialmente ajustado pela aprendizagem), considerando os traços sociais completamente meméticos, traços estes mesmos que a psicologia evolucionária vem provar são realmente legados genéticos com milhões de anos de evolução, lado a lado com processos como a visão ou a audição (que também contém componentes que a psicologia clássica considerava aprendidos). Verifica-se assim a tendência geral nas ciências cognitivas de encontrar suporte genético para uma série de comportamentos humanos que eram considerados fruto da aprendizagem e um legado puramente social (como tal fruto da computação distribuída e consequente selecção memética que tem vindo a ser executada ao longo da evolução da sociedade). Contudo a psicologia evolucionária não veio depor a ideia de memes nem a importância de mecanismos como a aprendizagem ou a influência do meio, pelo contrário veio em muitos casos abrir caminho para explicações de como funciona o suporte genético por detrás desses mecanismos, a sua origem (de tal forma que trás consigo uma função que veio solucionar um problema de adaptabilidade ou que é um subproduto de uma função que resolve um problema de adaptabilidade enfrentado na evolução humana) e a contextualização dos mesmos no meio em que se inserem e que os despoleta.
Alguns dos resultados desta corrente vêm contrariar algumas afirmações que fiz mais atrás. Apesar de a psicologia evolucionária aceitar e utilizar o modelo computacional de mente não o aplica como um processador universal, nem mesmo no que toca a mecanismos lógicos, aos quais eu me referi como sistemas simbólicos, fortemente ligados com a consciência. Na psicologia evolutiva encontrando inclusive, para uma série de raciocínios lógicos num determinado domínio como as interacções sociais no plano da cooperação (e boicote da mesma), um suporte genético que faz com que os raciocínios lógicos sobre a mesma (no caso encontrar um boicote - alguém que não cumpre as regras da cooperação: dar e receber) sejam muito mais facilmente executados por qualquer pessoa do que os mesmos raciocínios lógicos sobre outro domínio semântico: ver a experiência com as violações de regras if then na parte final do artigo [COSMIDES&TOOBY].
Ao vir reformular a visão clássica do estudo dos comportamentos do ser humano, numa abordagem inicial a psicologia evolucionária debruça-se sobre a questão do que é o comportamento. Verifica-se a sua associação ao movimento, à coordenação de recursos físicos de um animal de forma a atingir um objectivo. Daí fazer parte de um processo: percepção -> cérebro -> movimento -> comportamento. Confirma-se que animais que não se movem não possuem cérebro e alguns possuem cérebro apenas até se fixarem num local e depois o seu cérebro é assimilado como alimento (sea squirt).
Uma perspectiva inicial é a de que comportamentos que aumentem as possibilidades de sobrevivência ir-se-ão sobrepor aos outros comportamentos, contudo existem outras dimensões em que a selecção natural opera. A potencialização das capacidades reprodutivas e o aumento da probabilidade de sobrevivência das crias (por exemplo através dos cuidados paternais no ser humano, que evolutivamente apenas surgiram num passado recente) são factores chave e sem os quais o aumento da capacidade de sobrevivência não tem resultados (visto os genes que a originam não serem transmitidos a uma prole com capacidade de os disseminar).
O meio em que se insere uma espécie coloca-lhe uma série de problemas adaptativos, estes deverão ser temporalmente recorrentes de forma a terem uma influência durante um período suficiente para que o lento processo da selecção natural venha a gerar e permitir a sobreposição de seres que sejam capazes de lidar melhor com esse problema adaptativo (por exemplo a reprodução e a sobrevivência das crias geradas serão problemas adaptativos sempre presentes durante a evolução da nossa espécie). As soluções para estes problemas adaptativos têm por vezes outras aplicações, especialmente quando não são soluções demasiado restritas (se bem que grande parte do curso evolutivo seja o de produzir mecanismos muito específicos para superar problemas adapatativos quase como que desenhados por uma engenharia – gastando o mínimo de recursos para resolver o problema: questões de optimalidade), e sendo assim podem mesmo resolver outros problemas adapativos novos, ou mesmo anteriores, sem que tenha sido esse problema a potênciar o desenvolvimento do mecanismo em questão. Para além de problemas evolutivos muitos destes mecanismos vêm acrescidos de funcionalidades que são um subproduto, por exemplo ao passar a uma postura bípede e erecta o ser humano necessitou de desenvolveu um sentido de equilíbrio muito elaborado e que podemos agora utilizar para praticar desportos radicais, o que certamente não é um problema adaptativo.
A psicologia evolutiva vai contra uma visão da mente com mecanismos lógicos generalistas, demonstrando através da ineficiência destes mecanismos implementados computacionalmente quando lidam com um grande número de permissas a incapacidade para resolver problemas de um domínio específico. É nesta área da psicologia evolutiva que mais questões me surgem e é aqui também que vem grande parte da colisão com o modelo com que tenho estado a lidar anteriormente. A ideia da PE pode parecer pouco natural quando nos debruçamos sobre a miríade de problemas com que o ser humano lida e que não estão relacionados com problemas adaptativos. A minha ideia inicial é que face a esses problemas fosse aplicada a lógica, mesmo que num nível mais inconsciente existissem respostas de comportamento baseadas em mecanismos emocionais que seriam depois confrontados no mecanismo lógicos e ao longo do tempo acertados com base nesses resultados. Penso que a ideia da PE é que isto não acontece e para lidar com essas situações que não foram fonte de pressão evolutiva o ser humano utiliza os mecanismos evolutivos nos quais essas situações se enquadram como um subproduto da pressão evolutiva que os originou. Contudo ao fazer a comparação de um ser humano experiente numa área profissional e alguém que se inicia na mesma a visão que se tem é muitas vezes a de que o primeiro tem uma base de conhecimentos mais alargada e utiliza regras lógicas mais restritas parametrizadas ao longo do tempo. Se assim não for de alguma forma mecanismos específicos, como subprodutos evolucionários, terão que ser despoltados, isto é, é necessário que a mente do indivíduo seja capaz de identificar que está perante uma situação na qual dado mecanismo evolutivo tem a capacidade de o suportar. Esta questão é mais fácil de visualizar face a alguns fenómenos fascinantes fruto da evolução. Naturalmente que o meio onde uma espécie se desenvolve não é constante, existem variações sazonais, existem mesmo contextos sociais distintos nos quais um determinado comportamento não permite a sobrevivência. É assim que o suporte genético de muitos animais é capaz de identificar este contexto e responder perante o mesmo da forma adequada. Um exemplo extremo é o de uma espécie de peixes em que um macho vive com um conjunto de fêmeas, no caso da morte do macho a maior das fêmeas muda de sexo e torna-se o macho do grupo (estamos assim perante um estímulo social – social cue – com uma componente cognitiva de um nível relativamente alto origina um processo de coordenação entre as várias fêmeas – cf. algoritmos de coordenação em sistemas distribuídos – para decidir que se tornará macho). Mesmo as plantas formam folhas com formas distintas conforme o solo que as suporta, isto é, a mesma planta conforme seja plantada em terra ou numa solução aquosa vai ter folhas com uma forma diferente.
A PE indica mesmo que a aprendizagem e a razão são instintos impossíveis de separar do suporte genético que os contextualiza num mecanismo adaptativo (fruto de um problema adaptativo). A questão usualmente levantada na sociologia clássica se determinado comportamento tem uma origem em factores inatos ou numa aprendizagem perde assim o seu sentido visto que sem os factores externos (sejam eles memes ou factores físicos do meio) os mecanismos genéticos não seriam despoletados e sem os mecanismos genéticos não existiria um suporte para a informação oriunda do exterior. Sendo assim a PE considera que a variação entre elementos da espécie humana são quantitativos (ao contrário da genética do comportamento que busca variações genéticas entre indivíduos para explicar as diferenças de comportamentos entre estes) e que o modelo funcional se mantém permitindo um estudo de modelos universais sem se perder em detalhes fruto de pequenas variações genéticas que não representam mecanismos funcionais diferentes.
No campo da emoção no artigo [COSMIDES&TOOBY] considera-se que esta tem um papel coordenador entre os vários mecanismos (módulos), que sendo assim virá substituir em certas situações o papel coordenador de um único fluxo de execução presente na consciência. Aplica-se especialmente face a situações recorrentes (o que vem reforçar a ideia que tinha já exposto anteriormente e que me leva a ver a emoção como uma heurística que poupa esforço computacional consciente). Contudo existe no artigo também a ideia de que a emoção está talhada de forma a reagir pela melhor forma face a situações críticas com que lida pela primeira vez, eliminando de certa forma o papel da consciência deste plano.
Face a questões como a adaptabilidade de tecido nervoso a novos processos no contexto do ENS (ver tópico respectivo) ou a adaptação de uma zona cerebral, responsável por exemplo pela visão num cego, a fazer parte de novos processos úteis como a audição, a psicologia evolucionária vem dar uma visão que está longe da simplicidade da visão de computação universal (se bem que essa possa ser a visão neurológica ao nível dos neurónios e a sua parametrização) que deixaria por explicar o processo de aprendizagem desses neurónios para efectuar as novas tarefas, e passa a visualizar essa adaptabilidade como produto de um mecanismo fruto do processo evolutivo, e portanto prevendo que se tenha já enfrentado uma situação semelhante como pressão evolutiva ou seja este comportamento então o subproduto de um mecanismos fruto de outra pressão presente.
Seja como for julgo que a psicologia evolucionária é uma perspectiva com grande vantagem para uma série de processos mas que vem como um choque quando aplicada a uma série de campos, se foi fruto de 20 anos de assimilação do “Sociobiology” julgo que terá ainda muitos mais anos pela frente até atingir uma maturação, isto especialmente nos segmentos em que adopta uma abordagem down-to-top e onde muitas vezes é difícil articular os processos de baixo nível com processos mais complexos.
Quando é adoptada na verificação e previsão da presença de mecanismos demonstra uma vantagem e dá explicações bastante lúcidas para uma série de processos. Visões na linha de: Se o acaso tivesse gerado um ser com determinado mecanismo será que ele iria ter vantagens sobre os outros? Então se o acaso gerou esse indivíduo ele provavelmente sobrepôs os seus genes de forma a chegarem até hoje; vêm alicerçar explicações e a compreensão de uma série de mecanismos cognitivos.


Razão e deliberação como ferramentas de previsão do futuro e adaptação para o mesmo, em oposição à emoção como reacção ao cenário instantâneo:

Numa abordagem inicial pode parecer natural concluir que a emoção é algo de mais primário (o que julgo ser verdade visto o caminho de evolução da vida) e simultaneamente algo menos poderoso, mais limitado, do que a razão. Ora julgo que é precisamente esta conclusão que é criticada por aquela que é talvez a figura mais mediática de ciência do século XX:

"The intuitive mind is a sacred gift and the rational mind is a faithful servant. We have created a society that honors the servant and has forgotten the gift." Albert Einstein

Contudo ao prever o futuro é-nos possível reagir emotivamente em relação a ele, dou como exemplo a ansiedade (utilizando a dádiva sagrada sobre fruto do processamento do servo fiel). Acontece quando sentimos que é impossível não reagir de uma forma emotiva ou até mesmo inconsciente dados determinados estímulos, temos deste mecanismo de sobreposição da emoção à razão e controlo da razão em inúmeros exemplos nos mecanismos de defesa psicológica, como por exemplo a negação - estudada inicialmente por Sigmund Freud (1856-1939).
A emoção é assim não só utilizada para lidar com o presente mas lida também com a abstracção que é efectuada pela razão ao prever uma situação futura e analisar vários cenários possíveis. Desta forma se visualizarmos a razão e emoção como abstracções num paralelo com a computação julgo não podermos observar que a emoção faz parte de uma camada primitiva que é utilizada pelo nível acima, a razão, pela parte consciente do ser (o utilizador na computação). Parece-me que a mente humana neste aspecto se compõe com uma maior versatilidade, sendo a emoção tanto capaz de actuar sobre o modelo percepcionado da realidade imediata como sobre um conjunto de abstracções distintas relativas a um futuro distante. Sendo que esta conclusão não se me apresenta como uma surpresa visto o que acontece com outros mecanismos mais primitivos como o ANS e a sua relação com a mente sob uma forma não puramente de camada superior camada inferior mas sim de elementos de computação comunicantes e cooperantes.
Aderente à essência da emoção está a rapidez com que esta nos dota de informação capaz de permitir uma acção face ao estímulo de determinada situação. Sendo assim um dos principais valores da emoção e até de outras reacções mais primárias é a rapidez com que actuam sobre a realidade, em situações em que não existe tempo para a actuação da razão ou mesmo de uma abordagem consciente de maior generalidade e espectro mais alargado (logo fruto da aplicação de algoritmos de maior complexidade computacional). Podemos aqui estabelecer um paralelo com o mundo computacional das redes neuronais (do lado da emoção) e da inferência lógica (do lado da razão).

Evidências como a presente em [ART 1] apontam para uma universalidade das capacidades cerebrais, zonas do cérebro responsáveis por uma dada função adaptam-se para efectuar outra distinta em determinados casos (como os provocados na experiência referida no artigo ou como no cérebro de pessoas que perderam por exemplo um braço e cuja zona responsável no cérebro passa a estar dedicada a outras funções, ref.: Documentário de uma das aulas teóricas). Contudo esta revelação de universalidade é localizada num sistema muito específico sobre o qual terá que existir já conhecimento (seja ele genético, fruto da aprendizagem e relacionado com o suporte genético ou fruto de influência de memes) ou ser efectuada nova aprendizagem. Julgo que é natural que um tecido de protoplasma (acho que me posso referir assim a um conjunto de neurónios) possa reajustar as suas propriedades de forma a executar outra função desde que exista outro protoplasma capaz de gerir esta alteração e proceder ao ensinamento necessário.



Uma tentativa de aplicação de conhecimento sobre as bases do modelo psico-visual e as fases iniciais da aprendizagem:

O mito de que as crianças com óculos são geralmente mais inteligentes

Alguém que sofra de miopia tem uma visão desfocada do mundo, tanto mais quanto maior for a sua deficiência. Sem uma correcção através de lentes o modelo psicovisual dessa pessoa tem por base informação muito menos poderosa do que uma pessoa com visão normal. Por exemplo a identificação da linha que delimita um objecto é muito mais difícil e como tal a identificação do objecto dificultada tendo este características que abrangem um espectro de objectos mais largo. Sendo assim a criança que cresce durante algum tempo sem correcção para este problema, se tiver as mesmas demandas do mundo que a rodeia ("dá-me aquela cubo preto que está em cima da mesa", etc.) para lhes conseguir responder com a mesma facilidade que uma criança normal terá que fazer um processamento das imagens muito mais elaborado (imagine-se a quantidade de heurísticas que seriam necessárias para processar as imagens de uma câmara digital com uma definição muito menor do que outra). Tendo presente a visão do modelo conexionista e a visão da psicologia infantil mais recente julgo que será possível concluir que estas circunstâncias, até determinada idade a partir da qual a acuidade visual se torna essencial para a aprendizagem da leitura, funcionam como catalisador da formação de uma mente mais capaz de lidar com situações de privação de informação e capaz de tirar conclusões com mais facilidade dado um número restrito de premissas. Contudo julgo também que existirão efeitos psicológicos colaterais tais como um baixo nível de autoconfiança vista muitas vezes a necessidade dos outros para realizar tarefas para as quais o seu modelo visual ainda não possui uma heurística satisfatória (naturalmente que nem sempre a criança conseguiria efectuar as tarefas que lhe eram pedidas e daí poderia ter estímulos negativos na sua aprendizagem). Finalmente julgo ainda este raciocínio estar extremamente limitado a partir de certo ponto em que a informação presente na criança míope é mesmo insuficiente para tirar qualquer conclusão (tal como acontece com o reconhecimento de letras e outros símbolos).



Bibliografia:

[ANS] Neuroscience for Kids - Autonomic Nervous System
http://faculty.washington.edu/chudler/auto.html

[ENS] A brain in the gut
http://whyfiles.org/026fear/physio1.html
[ENS2]
Aprofundamento do assunto no artigo "The Enteric Nervous System A Second Brain":
http://www.hosppract.com/issues/1999/07/gershon.htm

[Encarta BRAIN]
"Brain," Microsoft® Encarta® Online Encyclopedia 2002
http://encarta.msn.com © 1997-2002 Microsoft Corporation. All Rights Reserved.

[MITECS]
"The MIT Encyclopedia of the Cognitive Sciences"
Robert A. Wilson, Frank C. Keil
MIT Press, 1999

[PINKER]
"How the Mind Works", Online Excerpt from the Introduction:
http://www.wwnorton.com/catalog/fall98/pinker.htm
Steven Pinker, 1997 W.W. Norton & Company

[PINKER CN]
"How the Mind Works", The Cognitive Niche sub-chapter
Steven Pinker, 1997 W.W. Norton & Company

[HOWARD]
"Owner's Manual for the Brain: Everyday Applications from Mind-Brain Research (Second Edition)"
Pierce J. Howard, Bard Press 2000

[WRIGHT]
"The Moral Animal : Why We Are the Way We Are : The New Science of Evolutionary Psychology"
Robert Wright, Vintage Books 1995

[COSMIDES&TOOBY]
http://www.psych.ucsb.edu/research/cep/primer.html
“Evolutionary Psychology: A Primer”
Leda Cosmides & John Tooby, University of California, 1997

[ART 1]
Scientists rewire visual function of brain.(Brief Article)
http://www.findarticles.com/cf_0/m0VEY/12_25/62879679/p1/article.jhtml


Notas:

(1) Eventualmente poderá ser fruto de uma modelação simbólica sobre um sistema sub-simbólico de reacção emocional – ver tópico do desenvolvimento: “O Cérebro” sobre a emoção e a parametrização da mesma pela razão.

Tuesday, June 18, 2002

"I've heard there was a secret chord
That David played, and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
It goes like this: the fourth, the fifth
The minor fall, the major lift
The baffled king composing Hallelujah

Chorus: Hallelujah Hallelujah, Hallelujah Hallelujah

Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew you
She tied you to a kitchen chair
She broke your throne and she cut your hair
And from your lips she drew the Hallelujah

Chorus

Maybe I've been here before
I know this room, I've walked this floor
I used to live alone before I knew you
I've seen your flag on the marble arch
Love is not a victory march
It's a cold and it's a broken Hallelujah

Chorus

There was a time you let me know
What's really going on below
But now you never show it to me, do you?
I remember when I moved in, you
Your holy dark was moving too
And every breath we drew was Hallelujah

Chorus

Maybe there's a God above
And all I ever learned from love
Was how to shoot at someone who outdrew you
Yeah but it's not a complaint that you hear tonight
It's not somebody who's seen the light
It's a cold and it's a broken Hallelujah

Chorus

You say I took the Name in vain
I don't even know the Name
But if I did, well really, what's it to you?
There's a blaze of light in every word
It doesn't matter which you heard
The holy or the broken Hallelujah

Chorus

I did my best, it wasn't much
I couldn't feel, so I tried to touch
I've told the truth, I didn't come to fool you
And even though it all went wrong
I'll stand before the Lord of Song
With nothing on my tongue but Hallelujah"

lyrics by Leonard Cohen, I listen to the version sung by Rufus Wainwright for the Shrek soundtrack and tackle into the details that made me like this song at first.