Monday, May 25, 2009

Pela primeira vez entrei no Teatro da Luz para assistir a algo de realmente interessante: um concerto da "família" Kimya Dawson. Sem espectativas especialmente delineadas, contava apenas com a voz e guitarra melódica e com algunas surpresas pelos elementos masculinos da alegre e numerosa "família".

A surpresa Karl Blau foi de facto a mais impactante da noite. Um senhor alto q.b., com voz a condizer, transbordante pela pequena sala do teatro, e com uma imaginação e espontaneidade absurdas e contagiantes. O reportório foi cantado e tocado de forma acústica, com muita afinação, boa disposição e interacção com o público, que claramente adorava participar nestes números de folk espontâneo e improvisado.

Já o Sr. Angelo Spencer foi o primeiro a ligar amplificadores. Mostrou ser um exímio interprete multi-instrumental por detrás da bateria (timbalão e pratos), de uma guitarra muito bem explorada e de uma voz, por vezes tímida, mas ainda assim interessante.

Com a Kimya Dawson a doçura, irreverência e uma grande dose de humor instalaram-se em peso no palco. Depois, noite fora, foi um navegar por temas igualmente doces, irreverentes e cómicos. A doçura da voz, a guitarra ritmada, a expressão apaixonada, a conversa próxima, sincera e a linguagem corporal, tudo contribuiu para criar um ambiente mágico. A presença das crianças, em particular a filha dela (Panda), contribuiu na doçura mas suspeito que venha também a contribuir na irreverência dentro em breve ;)

Foi uma noite de longe melhor do que qualquer expectativa que poderia ter. De uma intimidade fantástica com um mundo que me deixou apaixonado e feliz.

Só fiquei mais uma vez com aquela ideia de que todos os músicos dizem que o "nosso" país é o melhor, independentemente de onde estejam... Se bem que a ideia foi muito reforçada pelos três, pareceu-me sincera e foi complementada com críticas à rigidez dos ingleses e ao fascismo de Sarcozi e de quão bem encaixava na altivez das "senhoras" francesas, em contraste com as portuguesas, mais próximas de uma sloppyness Kimyana.

Já o rapaz do fato e gravata e do assobio de pássaro que actuou também ontem e hoje no S. Jorge trouxe outros ares aos ouvidos de Lisboa. Muito repetitivo na fórmula usada ao vivo, usa-se de recortes sonoros, tocados ao vivo e depois repetidos como samples. É desta forma que Andrew Bird talha melodias complexas usando apenas um violino e bastante agilidade. Fazendo-se usar da repetição temporal das mesmas só para as cortar abruptamente para solos de guitarra ou versos que retratam o seu curioso imaginário.

Um momento em particular ficou marcado em mim, muito desejado desde há mais de um ano, foi trazido por uma versão diferente mas completamente aceitável da "A Nervous Tic Motion of the Head to the left". Nesta peça os elementos e a forma de talhar as músicas, que por vezes me pareciam repetitivos, tomaram uma forma extremamente coesa e potentosa. A execução foi mais do que exemplar, culminando em momentos de puro prazer auditivo e sensorial.










Mais uma vez os bons concertos acontecem em dias imediatamente seguidos como em Novembro com os Ra Ra Riot e os Sigur Rós.

2 comments:

Mark Broemer said...

Tens que perceber que a reacção dos músicos tem muito de haver com a realidade que eles enfrentem no páis deles, com pouco respeito e ainda menos publico. Já vi muitos concertos nos EUA em que o publico não deixou de falar durante o concerto inteiro. Concertos indie lá são muito "too cool for school" e a gente muitas vezes vão aos concertos para fazer tudo menos ouvir atentamente um concerto.

Foi a mesma coisa com o concerto dos Ruby Sun's na ZDB. Eles estavam chocados que a gente a ver o concerto estavam tão silenciosos, mesmo entre canções. Claro, batem palmas no fim de cada canção, mas mostrem muito respeito para os musicos.

É por isso que gosto tanto de ver concertos em Portugal!

TheDruid said...

É estranho sabes? Para mim é simplesmente uma questão de respeito, incomoda-me muito ter alguém a conversar ou a cantar alto durante estes concertos. Esperava que outros países fossem mais civilizados... mas se calhar tens razão e temos em Portugal um público muito único. Que é um bom público e respeitoso eu não tenho dúvidas.